"Há um mês, meu telefone quase não
tocava mais. Agora estou andando com três celulares". A frase, dita há
poucos dias por Aécio Neves ao jornal Folha de S. Paulo, refletia
a guinada do candidato do PSDB na reta final da corrida presidencial
que, neste domingo, foi confirmado como o adversário da presidente Dilma
Rousseff (PT) no segundo turno das eleições brasileiras.
O tucano
superou a ex-senadora Marina Silva (PSB), que chegou a ser favorita
para enfrentar a petista após a morte do ex-governador de Pernambuco
Eduardo Campos. Com cerca de 99,9% dos votos apurados, Dilma aparecia
com 41,6% dos votos, Aécio, com 33,6%, e Marina, com 21,3%.O resultado das urnas reproduziu as últimas pesquisas de intenção de voto, que indicavam a ascensão de Aécio simultânea à queda de Marina.
No último sábado, as duas principais sondagens do Brasil, Datafolha e Ibope, apontavam uma vitória do tucano sobre a ex-senadora, franqueando-lhe um lugar no segundo turno da corrida presidencial.
Segundo o Ibope, no primeiro turno, Dilma aparecia com 46% dos votos válidos, Aécio, com 27% e Marina, com 24%. Já o Datafolha mostrava Dilma com 44% dos votos válidos, seguida de Aécio, com 26%, e Marina, com 24%.
Leia mais: Cinco razões que explicam a queda de Marina Silva
A guinada do tucano se deu no último mês, quando o candidato do PSDB passou a crescer gradativamente na preferência do eleitorado, ao passo que a ex-senadora sofria o início de seu ocaso.
Mas o que permitiu a virada de Aécio na reta final da corrida presidencial?
A BBC Brasil ouviu uma dezena de especialistas, entre cientistas políticos e fundadores do PSDB. Apesar de divergências pontuais, o consenso entre eles é de que a guinada do tucano pode ser atribuída, em menor parte, a uma mudança de estratégia de sua campanha, e, em grande parte, à irreparável sangria de votos que acometeu Marina – reflexo, principalmente, dos ataques contra ela.
Erosão eleitoral
"Marina perdeu, pouco a pouco, a confiabilidade do eleitorado. Se antes despontava como a principal oponente de Dilma Rousseff no segundo turno, com chances reais de chegar à presidência, a ex-senadora viu seu eleitorado começar a rarear depois de uma série de problemas durante sua campanha", afirmou à BBC Brasil o cientista político Antônio Carlos Mazzeo, da Unesp de Marília (SP)."Marina havia ganhado eleitores de Aécio e de Dilma, mas era com o tucano que ela disputava o voto dos conservadores. Ela não conseguiu sustentar por muito tempo essa disputa", acrescentou Mazzeo.
Segundo os especialistas, pesou principalmente contra Marina os ataques feitos à sua candidatura pelo PT, mas também pelo PSDB.
"Houve uma 'desidratação' eleitoral de Marina Silva, orquestrada, principalmente, pela campanha da presidente Dilma Rousseff. Dilma é a grande vitoriosa desse embate. Foi uma estratégia muito acertada", disse à BBC Brasil o cientista político Paulo Baía, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Aécio também mudou sua estratégia. Sabia que estava perdendo votos para Marina, considerada favorita em um eventual segundo turno com Dilma. A partir daí, o tucano partiu para o ataque contra a ex-senadora, vinculando-a com a petista e explorando suas inconsistências", acrescentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário