sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Aventura, desafio e grande batalha em mares agitados.













Muitas aventuras podem ser medidas pelo grau de dificuldades, pelo grau de coragem que a situação requer, pela exigência de um condicionamento físico e psicológico e até pelo alto risco de morte que a situação impõe. Existem aventuras que além de todas essas exigências conta com o fator natureza que pode diminuir e aumentar todos essas dificuldades que a situação exige e até impedir que a aventura aconteça. A ultra maratonista em águas abertas Catarina Almeida Porfírio pode vivenciar em 80 dias todos os requintes, desgastes e riscos para uma super aventura, em um curto período de tempo foram duas tentativas de travessia do Canal da Mancha com condições climáticas totalmente adversas, depois de tanto sacrifício Catarina ousou desafiar a travessia do Leme ao Pontal no Rio de Janeiro, como a primeira  pessoa a tentar fazer ida e volta, ela já faz parte do seleto grupo de 22 pessoas que conseguiram fazer a travessia de ida, apenas 6 mulheres conseguiram o feito, sua conquista aconteceu em janeiro deste ano como preparação para o Canal da Mancha. Desafio inédito,  ninguém havia tentado ida e volta. Neste período, suportou frio, desgaste psicológico com martírio da espera para condições favoráveis para poder realizar suas tentativas, saudade da família, e principalmente desgastes físicos com treinamentos intensos e condições totalmente desfavoráveis para realização de suas provas.  Depois de dois anos de treinamentos intensos para se condicionar física e psicologicamente,  conquistou o seleto direito de realizar a travessia do Canal da Mancha, a atleta se viu preparada para estes desafios, não mediu esforços desafiando um maratona de alta resistência com três grandes desafios em um prazo curto de 80 dias.
05 de setembro – Canal da Mancha - O primeiro desafio foi na travessia do Canal da Mancha, que liga a cidade de Dover na Inglaterra, à cidade de Calais na França, no início do mês de agosto, um percurso de 35 km que pode ultrapassar os 40 por causas das mudanças das marés. Já na Inglaterra, depois de duas liberações e posterior cancelamento antes da largada para a travessia por causa das condições climáticas desfavoráveis, a atleta Catarina foi liberada para a tentativa em condições limites de segurança, muito acima das condições ideais para a travessia com ventos fortes, mar agitado, temperatura da água abaixo dos 15 graus. Mesmo com tanta adversidade Catarina ficou 8 horas e meia nadando, aproximadamente 24 km  percorridos; dores insuportáveis provenientes do frio excessivo, foram os principais motivos que impediram a conclusão do trajeto. O treinador e toda sua equipe, conscientes que as condições não estavam ideais para travessia, deixaram por conta da atleta para decidir se tentaria, afinal foi muito tempo se preparando para este sonho, no final tiveram a certeza que fisicamente Catarina estava muito bem, depois de 8 horas e meia naquele mar gelado e agitado, ela mantinha as braçadas fortes em um ritmo muito bom. O treinador afirmou que em condições de mar normal, menos de 10% conseguem realizar a travessia. Diante do expressivo feito uma semana após voltar da Inglaterra Catarina foi convidada a fazer uma nova tentativa no Canal da Mancha (as janelas de uma semana para realização da travessia, são agendadas pelo menos um ano antes, algo impensável para aquele momento). A surpresa veio quando houve a desistência de uma atleta  que iria fazer a tentativa no final de setembro e inicio de outubro últimos dias de janela pois a temporada de travessia estava chegando ao final pelo fim do verão na Inglaterra, Catarina foi convidada para ocupar a vaga, de imediato foi um susto mas analisando com frieza, com o apoio do marido Dr. Humberto, Catarina concluiu que o momento era favorável devido o seu condicionamento físico totalmente preparado e agora com a experiência da primeira tentativa a oportunidade era muito favorável. Corajosa, destemida e cheia de confiança a super atleta Catarina partiu novamente para esta nova aventura.
Consciente das dificuldades que passou há poucos dias, sabia que o maior tormento seria expectativa de espera para abertura de janela para que autorizasse sua largada, pois este verão na Inglaterra estava atípico com condições climáticas abaixo do ideal para este tipo de travessia. Por mais que o atleta esteja preparado para uma aventura radical desta natureza , por mais que se treine, estude e receba orientações de treinadores, atletas que já tentaram ou realizaram a travessia, todos relatam que é muito tensa a ansiedade, a adrenalina, a emoção, sem contar o medo natural pelo alto grau de dificuldade e riscos iminentes como: contato certo com águas vivas, tráfego intenso de navios, e risco de hipotermia devido a baixa temperatura da água o qual muitos acreditam ser um dos maiores obstáculos, além é claro do esforço físico intenso em torno de 16h. Uma aventura que exige altas doses de determinação, excepcional preparo físico e muita coragem.
28 de setembro novamente Canal da Mancha -   Foram 10 dias de muita expectativa, as condições sempre no limite, com muito vento, altas ondas, em qualquer melhora de previsão os fiscais ameaçavam para liberação da travessia mas pouco tempo depois comunicava que as condições pioraram. Foram dias intermináveis de muita pressão, muita angustia, uma vontade louca de poder cair na água para encarar de novo aquele desafio, agora com mais confiança, experiência e certeza de superação. Neste período de espera a atleta mantém toda disciplina de treinamento, fazendo ali várias horas diárias de treinamentos no próprio mar que irá enfrentar.  Houve uma expectativa muito grande para o último dia de janela, as previsões mostravam uma melhora considerável para aquele dia, chegaram a marcar a hora da liberação, “entrei em fase final de preparação, alimentação, repouso e concentração, a menos de uma hora da liberação veio uma determinação final, para esta temporada, estava fechada qualquer tentativa de travessia a nado do Canal da Mancha”, lamentou Catarina. Apesar da frustração de não ter tido sequer a oportunidade de tentar a travessia novamente, Catarina respirou fundo, lamentou, mas considerou positivo todo seu esforço, sua vontade, agradeceu por prevalecer a vontade de Deus que esteve presente todos os dias.
29 de outubro – Leme ao Pontal – A araxaense Catarina Almeida Porfírio depois de desafiar o Canal da Mancha na Inglaterra por duas vezes, estava de volta a sua praia, local onde havia adquirido o sonho de desafiar outros mares, no qual é detentora de grandes marcas, dentre elas de ter concluído a Travessia do Leme ao Pontal na modalidade solo sem neoprene, restrito a apenas 22 atletas dentre eles somente seis mulheres. Os super-atletas buscam sempre novos desafios para alimentarem os seus desejos, suas vontades de desafiar, suas buscas por emoções fortes e as águas geladas do Canal da Mancha foram o gatilho para despertar em Catarina um novo sonho, uma nova vontade de desafiar, a atleta agora ousou desafiar a travessia do Leme ao Pontal em ida e volta, potencializando as dificuldades, distância de 72km, mudança corrente marítima devido a elevado tempo de duração, o cansaço e as intempéries que o mar oferece. Um desafio tão difícil que de inicio já escreveu seu nome na historia como o primeiro ser humano a ousar tentar concluir esta façanha, impensável até o momento. Consciente do grande desafio, das dificuldades, Catarina estava confiante devido ao dois anos de preparação para o desafio de travessia do Canal da Mancha.
Após fazer seu credenciamento com a  LPSA, (Leme to Pontal Swimming Association) começou-se todo uma preparação e a procura de um momento em que as condições dos ventos, ondulações, correntezas e marés não fossem totalmente favoráveis em um só sentido. Depois de um mês, surgiu a oportunidade, mas com grandes riscos de ventos contras no trecho final. A melhor data favorável  foi a tarde do dia 29 de outubro, às 16h16min, a nadadora Catarina Porfírio caiu na água para desafiar mais este feito, algo que ninguém havia se quer tentado. Fazer a Travessia do Leme ao Pontal – ida e volta. Com ritmo constante sem forçar muito no inicio, observada pelo treinador e toda equipe de apoio, Catarina foi conquistando distância, com o passar do tempo foram surgindo as dificuldades naturais do desafio, a mudança de direção constante do vento trouxe agitação do mar com aumento das marolas, trazendo mais dificuldades e esforço para superar as distâncias, como era um desafio inédito com alta distância, Catarina precisava manter um bom ritmo mas economizando o máximo de energia possível . Geralmente os trechos mais complicados, como o de São Conrado e Barra da Tijuca,  foram superados sem qualquer dificuldade extra onde manteve uma freqüência de braçadas constantes em 60 braçadas por minuto. Já com várias horas de natação a atleta começou a sentir uma dor no seu obro direito que foi relatado para sua equipe que passarou a monitorar seu rendimento para avaliar se influenciava no seu desempenho.  A nadadora concluiu o trecho de ida em 13 horas e 18 minutos, acima do seu planejamento. Aproveitando o regulamento da LPSA que lhe dá o direito de ficar por 10 minutos na areia do Pontal, fez a alimentação necessária, e também uma avaliação na lesão do braço direito que já lhe incomodava bastante, mesmo assim resolveu retornar  para a água com o objetivo de iniciar seu trecho de retorno ao Leme.
A cada braçada as dores no ombro direito foram aumentando e o foco não era mais a distância e sim quanto tempo suportaria aquele desgaste, neste momento além das dores, Catarina enfrentava corrente contra e as ondulações sudeste, exigindo uma força maior para manter o ritmo de braçadas. Com mais de 14 horas de travessia, sua velocidade caiu muito, próximo de 1,5km/h , mas a nadadora seguia lutando muito para superar todas as adversidades. Neste  momento sua equipe fazia de tudo para motivar e orientar a atleta.  A tripulação do barco escolta “Boa Sorte”, do comandante Max Paim Viglio, procurava encontrar a trajetória que fosse mais favorável para a natação da atleta. Porém, depois de três horas e com 17 horas de desafio, a nadadora Catarina Porfírio decidiu abandonar a travessia Leme ao Pontal (ida e volta) pelas fortes dores no seu ombro direito.
Ao sair da água, Catarina Porfírio demonstrou muita  tranquilidade e consciência das dificuldades deste desafio ida e volta, sua equipe deu todo apoio, parabenizou  e reconheceu o esforço e grande feito realizado.  A conclusão da sua segunda Travessia do Leme ao Pontal (trecho de ida), deu a Catarina Porfírio, o título de a RAINHA LPSA SOLO e seu nado foi reconhecido pela Associação como o NADO LPSA ENDURANCE que pertencia ao da travessia do nadador Edilson Bento realizada em 20 de setembro de 2018. De volta para casa Catarina foi recebida com muita emoção e comemoração pelos amigos e familiares pelo grande feito realizado. Agora e gozar do merecido descanso para voltar a sonhar com novos desafios.

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