sábado, 7 de fevereiro de 2015

A COLUNA DO JOÃO:







Na primeira noite...
“Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim: não dizemos nada.Na segunda, já não se escondem. Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada.Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.E já não podemos dizer nada”.(Bertolt Brecht)
“Um sapo colocado numa panela com água fervente, em ebulição a 100 graus, por certo reagirá rapidamente e pulará fora da panela.Porém, se você colocar o mesmo sapo numa panela com água fria e levar essa panela no fogo, o sapo não pulará. Ficará quieto sentindo a água esquentar, esquentar, esquentar até morrer cozido.Essa pequena história traz uma lição: o perigo de não percebermos uma situação quando suas graves consequências chegam lentamente”.
Como brasileiro, sinto-me como sapo na panela em água prestes a entrar em ebulição. Impressiona-me a desfaçatez de autoridades do mais alto escalão da república falseando com a verdade, de maneira cínica e crescente. Isso, em momento em que uma avalanche de escândalos inunda o governo federal. A sociedade perdeu a capacidade de indignação? Onde anda o sentimento de cidadania que outrora levou multidões às ruas? Quem se lembra da campanha das “Diretas Já”? E do povo na rua a exigir a deposição do primeiro presidente eleito após a redemocratização? A atual leniência da sociedade em relação aos escândalosé de tal ordem que merece um estudo sociológico. Ou já existe uma explicação para tal letargia?Chega às raias do absurdo a tendência da população (que é a vítima) derelativizar, deachar tudo “normal”.Pior são as tentativas de justificar os malfeitos de muitos dos atuais mandatários. Será que a explicaçãopara tal postura estáno uso deostensivo marketing de inspiração nazista acoplado aos ensinamentos de Gramsci?Seria por instinto que um presidente da república que muitos admiram pela esperteza,usasse a mídia, diariamente, para vender a ideia de que todo político rouba?Afinal, o que se pode concluir de suas mensagens é que na políticaa enganação, a mentira e o roubo são coisas normais. Que a vida pública não tem espaço para a ética, a decência e todos os valores que nossos pais nos ensinaram. Esse distorcido conceito devida pública predispõe à aceitação de todo tipo de sujeira. Não é por acaso que muitos vejam na política um campeonato de esperteza, um torneio de velhacaria onde afalta de escrúpulos é digna de aplausos.Ninguém ignora que qualquer ambiente da sociedade e não apenasos governos, estão sujeitos ao ataque de corruptos. Entretanto, o que se vê hojenão são fatos isolados, mas ainstitucionalização da bandidagem e o esforço pela sua aceitação. Qual o futuro de uma nação que engole atos espúrios e ainda apoia através do voto os crimes dasautoridades governamentais e da direção nacional do partido do governo? Em qualquer país sério esses crimeslevariama um desfecho muito diferente daquele que temos aqui. Enquanto nação, estamos colocados numa panela onde a temperatura da água ainda não foi sentida por uma grande e silenciosa maioria.A reação a esses acontecimentos pode levar parcelas da população a pensar que uma ditadura seria a solução. Se chegarmos a esse ponto, aí sim, os falsos democratas que estão hoje no poder atingirão o seu real objetivo. Afinal,o irônico nessa história é ver líderes desse governo– antigos(?) adeptos da ditadura do proletariado - chegarem ao poder pela via democrática.Afinal, o PT recusouseu aval aos principais passos para a redemocratização do Brasil. Seus líderes não participaram do movimento pela volta dos exilados liderada pelo então arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Não assinaram a Constituição de 1988 e não ajudaram a derrotar Maluf e o regime militar no Colégio Eleitoral.A falta de compromisso com a democracia entre osatores da tragédia de hoje não é novidade;a surpresa fica por conta da institucionalização da corrupção e o esforço empreendido por um partido político para que ela pareça normal!
João Jacques Affonso de Castro

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