SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO...
O
esquerdismo de arquibancada merece atenção de psicanalistas. Embora sem
credenciais para avançar na seara científica, ouso trazer aqui alguns elementos
de reflexão. E, se o faço, é por achar que muitos adeptos do marxismo nas suas
múltiplas derivações, ainda partem de um princípio nobre: o anseio por justiça
social. Neste aspecto o que me intriga é a desconexão da realidade. Quando se
abraça valores doutrinários submetendo a razão aos caprichos da paixão, o
consciente pode manter-se iludido ao longo do tempo. Quem não se deixa iludir é
o inconsciente que exigeválvulas de escape para mitigar dores de consciência. A
esquerda brasileira junta uma boa dose de nostalgia ao seu inconformismo com a
nossa realidade social. Neste aspecto a evolução social ocorrida naturalmente
(embora de forma desigual) não foi incorporada à consciência crítica dos
“progressistas” tupiniquins. Afinal, na fase da infância e juventude, membros
da classe média brasileira da minha geração que é a mesma de Chico Buarque e Frei
Beto, não tiveram acesso a bens de consumo que hoje são elementares e, para os
mais novos, imprescindíveis. Por que na época não usamos dessas ferramentas do
progresso? Pelo simples fato de que elas ainda não existiam. É fato
incontestável que as faixas econômicas não caminham no mesmo ritmo. Apesar dos
avanços, persistem distâncias consideráveis entre as camadas menos favorecidas
e a classe média e, desta em relação à chamada classe rica. O mais importante no
que diz respeito ao nosso país é a saudável migração de pessoas pelas diversas faixas
de poder aquisitivo. A partir do Plano Real a evolução social ganhou novo
impulso, realidade que parecenão interessar aos esquerdistas. Eles, que não se
enveredam pelas razões e datas, não se esquecem de propagar que muitos dos
brasileiros que ontem não podiam, hoje podem viajar de avião, podem adquirir
bens de consumo como carros, motos, computador, celular, etc. Neste contexto parece
afligir o inconsciente de vários intelectuais de esquerda o peso de se sentirem
privilegiados na medida em que têm uma condição de vida que muitos ainda não têm.
Afinal, eles podem viajar mundo afora e ter dois ou mais automóveis em suas
garagens. Nem ouso endossar a tese segundo a qual essa postura de contestação
reside, também, na inveja em relação aos que estão no andar de cima. Parece
faltar à esquerda a compreensão de que o processo econômico e social não ocorre
de forma homogênea pela simples razão de que as pessoas não são iguais. Uns se
comprometem mais, outros menos, uns são mais responsáveis em relação ao futuro
e outros menos. Existe uma graduação natural no que diz respeito à competência,
ao esforço, à multiplicidade de talentos e aptidões. Também, os objetivos
variam de pessoa para pessoa. A diversidade, condição inerente à natureza
humana,nunca será alterada por decreto. A opção por nivelaras pessoas constitui
por si só um ato de injustiça e isso, por uma questão de coerência, nãointeressaria
aos bem-intencionados esquerdistas. O cidadão de boa fé que tem interesse no
avanço social e na própria evolução, deveria se perguntar seé sensato optar
pelas “fórmulas mágicas” das ideologias sem considerar seus resultados práticos.Afinal,
as teses da esquerda são antigas, datam de 1848, e já foram colocadas em
prática em vários países,sempre com péssimos resultados sociais e econômicos. Não
se chega à inclusão através de métodos excludentes. Um Estado concebido para
promover igualdade de oportunidades, valorizar a meritocracia e ter a
democracia como um patrimônio inalienável é pré-requisito para se construir uma
nação próspera, justa e digna. O compromisso com o bem-estar social não é e nem
pode ser prerrogativa de um grupo, de um partido ou de uma ideologia!
João Jacques
Affonso de Castro
Araxá, 17 de
fevereiro de 2015.
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