Não
é novidade que as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente
para a humanidade. Desde os anos 70, quando a comunidade global passou a
discutir e trabalhar esse tema, tivemos um certo progresso, porém não
na velocidade necessária. Hoje, lidamos diariamente com muitos desses
impactos que já causam danos em diferentes países, regiões e setores
econômicos, mas que precisam se adaptar e ser cada vez mais resilientes.
O
coronavírus é um desses impactos. Algumas evidências conectam o
desmatamento diretamente ao surgimento de zoonoses, na medida que
destruímos o habitat natural de muitas espécies. Um estudo recente publicado no Journal Science of the Total Environment
mostrou que as mudanças climáticas causaram transformações em algumas
regiões da China, influenciando a rotina de alguns tipos de morcego e
ampliando a relação entre ser-humano, animal e vírus.
Aprendemos
muito neste período de crise. A velocidade e intensidade de resposta
frente a COVID por governos, empresas e a própria sociedade demonstrou
que esforços coordenados podem trazer soluções mais ágeis. Isso é
reflexo do nosso imediatismo como humanidade: infelizmente apenas
lidamos com os problemas na velocidade que somos afetados por ele. A
crise do coronavírus atingiu o mundo inteiro de maneira “democrática” e
esmagadora. Os impactos das alterações do clima são mais lentos em
alguns lugares ou ainda invocam projeções futuras.
Infelizmente,
os países subdesenvolvidos são os que mais sofrem as consequências
diretas dessas transformações, como grandes tragédias, enchentes e
escassez de recursos. Temos que reforçar que a mudança climática não é
algo incremental - ou que segue uma certa linearidade -, algumas partes
do ciclo de carbono terrestre funcionam como gatilhos, que podem
perturbar de maneira definitiva o planeta e produzir mudanças e impactos
abruptos que colocam em risco a vida humana por aqui.
A
boa notícia é que estamos começando a viver uma era do carbono neutro.
Governos de diferentes países tem reforçado os seus compromissos
climáticos para uma transição econômica. Os Estados Unidos, com seu
retorno ao Acordo de Paris, buscam retomar o protagonismo nas discussões
sobre o tema - algo prometido durante a campanha de Joe Biden - ao
falar amplamente sobre os “empregos verdes”. A China, como maior emissor
de carbono do mundo, prometeu publicamente alcançar a neutralidade de
carbono até 2060, e a União Europeia, além do famoso Green Deal,
cada vez mais pressiona a necessidade de compromissos climáticos em suas
relações comerciais, inclusive em algumas reformas na Organização
Mundial de Comércio (OMC).
A
realidade brasileira é diferente. Apesar de alguns pequenos esforços
por parte do Governo Federal, as empresas em nosso país começam a
assumir esse protagonismo ao entender que o Brasil tem uma grande
oportunidade de se tornar uma potência global nessa transição para a
economia de baixo carbono. A biodiversidade, o clima favorável,
florestas e energia limpa, são grandes drivers para o desenvolvimento tecnológico e a inovação voltada para a sustentabilidade.
A Natura - fortalecendo a sua liderança no tema - é uma das empresas participantes da iniciativa Transform to Net Zero,
que busca estimular a transformação no ambiente de negócios para zerar
emissões até 2050, além de promover mudanças sistêmicas em políticas,
governança e finanças. Já a Braskem, uma das maiores do setor
petroquímico, propõe através da economia circular neutralizar suas
emissões nos próximos 30 anos.
O Business Ambition for 1.5º,
e um movimento liderado pelo Pacto Global da ONU é um exemplo de como o
setor privado pode se engajar de maneira prática. O compromisso é
realizado com o Science Based Targets para reduzir as emissões de
gases de efeito estufa, e contribuir para limitar a média global de
crescimento em 1,5º acima dos níveis pré-industriais, conforme preconiza
o Acordo de Paris. Até agora, mais de 400 organizações, representando
mais de US $ 3,6 trilhões em capitalização de mercado, estão
comprometidas com a causa. No Brasil, já são treze empresas como Ambev,
Renner, Malwee e Banco do Brasil.
Se
quisermos conscientizar o mundo com relação aos efeitos das mudanças
climáticas, precisamos começar pelas boas práticas. O setor privado
precisa cada vez mais ser parte da solução – para resolver problemas
criados pela própria sociedade e nosso modelo econômico. A parceria com
governos e academia também se torna essencial, ao unir esforços para
gerar a transformação na velocidade necessária. Identificação,
mensuração e ação são palavras-chave para esse novo paradigma.
*Gustavo Loiola é doutorando em Administração de Empresas, coordenador de Relações Internacionais no ISAE Escola de Negócios (www.isaebrasil.com.br) e Chair do PRME (Principles for Responsible Management Education) para América Latina e Caribe.
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