Afonso
Borges lança livro de contos na livraria Nobel, em Araxá amanhã
O mineiro Afonso
Borges lança seu primeiro livro de contos “Olhos de Carvão”, pela editora
Record. Criador do projeto Sempre Um Papo, que há 31 anos promove o encontro de
escritores com o público para falar de suas obras, em 112 páginas, ele lança
mão dessa larga experiência na literatura para trazer à tona pequenos contos
fictícios, que trazem situações e lugares variados. Autor de três livros de
poesia e um infantil, a linguagem poética é que dá unidade aos textos. Como se
pode ler nos depoimentos de Alberto Mussa, Lya Luft, Ruy Castro, Mary Del
Priore e Sérgio Abranches, Afonso Borges descobriu um estilo próprio, mesmo
dedicando-se uma vida toda a livros e histórias de amigos escritores.
O
lançamento, com a presença do autor será nas seguintes cidades e datas:
10/6
- 18h - Araxá/MG - Livraria Nobel - R. Dom Jose Gaspar, 267, Centro. Logo após,
às 19h30, ele faz mediação do debate com André Trigueiro, no Teatro Municipal,
pelo projeto Sempre Um Papo.
19/6
- 19h - BH - Mercado Distrital do Cruzeiro - rua Opala S/N, Cruzeiro
20/6
- 19h - SP - Blooks SP - Shopping Frei Caneca, 569, 3 piso, Consolação
21/6
- 19h - RJ - Blooks RJ - Espaço Itaú de Cinema, Praia de Botafogo,
Botafogo
22/6
- DF - Restaurante Carpe Diem - SCLS 104, bloco D, loja 01, Asa Sul, Brasília
Sobre
o autor
Afonso Borges é
escritor, produtor cultural, nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais,
em 1962. É o responsável pela criação e curadoria do
Festival Literário de Araxá - Fliaraxá - realizado, anualmente,
desde 2012, no município mineiro. Desde 1986, dirige os
trabalhos da AB Comunicação e Cultura, sendo o responsável pela criação,
coordenação e desenvolvimento do “Sempre Um Papo. Trata-se de um dos projetos
mais respeitados de incentivo ao hábito da leitura do Brasil, que promove a
difusão do livro e seu autor. Já atuou em mais de trinta cidades de oito
estados brasileiros, além de ter sido realizado durante um ano na Casa de
América, em Madri, Espanha. Sob o comando de Afonso Borges, são mais
de 6.000 eventos, com um público presente estimado em 1,7 milhão de
pessoas.
Afonso Borges
faz colunas diárias de rádio há 11 anos, no programa “Mondolivro”, no ar,
atualmente, pela Rádio Bandnews Fm. É colunista do portal “O Globo”. Em 2012,
foi curador da Bienal do Livro de Minas Gerais. Escreve em jornais desde os 16
anos e já trabalhou, alternando funções de colaborador, repórter e editor,
em diversos jornais e revistas. Colaborou, como jornalista e pesquisador,
nos livros “Chatô – O Rei do Brasil” (Companhia das Letras), de Fernando
Morais, “O Desatino da Rapaziada – Jornalistas e Escritores em Minas
Gerais” (Companhia das Letras), de Humberto Werneck.
Afonso Borges possui
cinco livros publicados: o infantil “O Menino, o Assovio e a
Encruzilhada” (SESC Editora, 2016); “Retrato de Época” (poemas, 1980),
“Bandeiras no Varal” (poema-plaquete, 1983), “Sinal de Contradição – Conversas
com Frei Betto” (Ed. Espaço & Tempo, Rio de Janeiro, 1988), publicado
também na Suíça (”Zeichen des Widespruchs”/Edition Exodus, Fribourg/1989) e na
Argentina, e “Profecia das Minas” (poemas, 1993).
Orelha
- “Olhos de Carvão” - Por Alberto Mussa
É
célebre o verso de Noel Rosa que diz “ninguém aprende samba no colégio”. E eu
me arrisco a acrescentar: nem samba, nem literatura.
Literatura
é sobretudo vivência. Só depois de um profundo mergulho em livros é que se pode
esperar a emersão de um autor, em poesia ou prosa. Escritor é apenas o leitor
que escreve.
Afirmo
isso a propósito da grata surpresa que foi ler os originais deste Olhos
de carvão, de Afonso Borges, este grande amigo das letras brasileiras.
Poeta,
com três volumes publicados, Afonso estreia pronto na ficção, demonstrando raro
domínio do ofício de prosador. A construção ou depuração desse talento não se
deve a nenhum colégio; não há nele nenhum ranço de academismos e modismos
teóricos; não se encontra nada que sugira a preocupação de acompanhar a
corrente.
O
que se percebe em Afonso Borges é, primeiro, uma amplíssima bagagem literária;
um convívio longo, íntimo e intenso com a arte narrativa. Seus pequenos contos
passam por muitos lugares e exploram situações variadas. Não há um tema comum: o
que lhes dá unidade é a persistência de um mesmo tom, e um mesmo ritmo. Posso
dizer numa só frase: há um estilo aqui — que me parece único
na literatura brasileira.
A
linguagem, sempre poética, resvalando do plano real para o simbólico, dá aura
singular à abordagem do assunto, que muitas vezes não passa de um flagrante,
mais próximo da crônica que do conto tradicional. Outro trunfo de Afonso é
saber mesclar linhas narrativas, alternando tempo ou espaço — técnica muito
difícil de executar em dimensão tão curta, que se assemelha aos dribles do
futebol de salão.
O
leitor certamente encontrará outros méritos neste Olhos de carvão,
porque se trata de algo muito original, obra de um autor que — por sua vasta
cultura — soube encontrar a sua própria voz.
Depoimentos
sobre “Olhos de Carvão”:
“De
onde Afonso Borges tirou essas histórias?
Em
que camadas invisíveis da realidade, secretas quartas dimensões ou sei lá o
quê, elas se escondiam? Será que estavam acontecendo sob as nossas barbas, numa
espécie de zona fantasma, sem que as percebêssemos?
Seja
como for, só Afonso Borges poderia contá-las. Só ele tem a chave desse universo
paralelo, em que homens e mulheres vivem histórias que parecem
acontecer numa suspensão química.
Mas,
agora, solucionadas e reunidas em Olhos de carvão, todos
nós poderemos palmilhar esse universo e, ao fim dele, descobrir
um escritor.” (Ruy Castro)
Um
gênero tão difícil, tão ingrato. Mas não para Afonso Borges, que os abraçou com
paixão e conseguiu criar algo novo: um estilo. E estilo marcado por um ritmo -
quase cardíaco - que vai dos títulos à formulação das frases e dos parágrafos.
Ritmo cuja repetição revela o domínio técnico do autor, reage a impessoalidade
dos congêneres e faz da pontuação uma marca. Leem-se seus contos numa batida
que é caminhada e música. (Mary delPriore)
Como
tantas vezes, com seu livro "Olhos de Carvão" Afonso Borges me
surpreendeu. Como me surpreendeu trinta anos ou mais atrás ao apresentar
seu projeto de reunir escritores e leitores. Lygia Fagundes, Nélida e eu e mais
alguns nos comovemos e colaboramos apostando sem muito acreditar naquele menino
mineiro idealista: resultou no belíssimo "Sempre Um Papo" que hoje
nos prestigia.
Assim
me surpreende com os excelentes contos de "Olhos de Carvão", bem
escritos, bem tramados, encantadores e instigantes. (Lya Luft)
Afonso
Borges vive na literatura. Não sei se vive da literatura. Coleciona
escritores e livros e transforma, ambos, em amigos íntimos. Afonso tem um
papo manso, de mineiro, que transferiu para a mais aconchegante das for- mas de
entrevistar autores, desde os desinibidos e confiantes aos tímidos e
ensimesmados. Era apenas natural que Afonso escrevesse e que, na escrita, fosse
breve como suas frases, mas com a densidade de sua vivência literária.
Seus contos abrigam poesia, como breves epifanias: “aura índigo”,
“misto de calma e pânico”, “os olhos de carvão”, “um nó, absoluto
e impossível”, “túneis escuros de esperança e ódio”,
“o olhar triste do mundo”. Tem linguagem própria, autêntica, inclusive
nas referências a outros autores. Os
contos começam cotidianos, como um caso mineiro, desses que
se con-ta ao pé do fogo, com uma pinga boa rodando a roda.
Mas não terminam cotidianamente. Como em todo bom conto, irrompe ora
o inesperado, ora o apenas insinuado, um toque de mistério ou uma
pitada de absurdo. Não raro o puro absurdo do cotidiano de nossos
tempos. Afonso Borges é da linhagem dos contistas econômicos nas
palavras. Autor de contos curtos e densos, que começam pequenos e
terminam metafísicos.
O
conto é um gênero nobre da literatura, tratado com desprezo pela
maioria dos editores no Brasil. Praticamente todos os grandes autores, em todos
os tempos e lugares, foram exímios contistas:
Machado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Joyce,
Hemingway, Tolstoi, Dostoyevski, DorisLessing, Virginia Woolf e
cada um pode adicionar os autores de sua predileção. O Brasil, e Minas
Gerais em particular, têm uma preciosa tradição no conto,
basta lembrar Murilo Rubião, que só escreveu contos, Rubens
Fonseca, SérgioSant’anna, Luiz Vilela, Lúcio Cardoso,
Ivan Ângelo. Era natural que Afonso, colecionador de amigos escritores e
livros, entrasse para a confraria dos contos. (Sergio Abranches)