Taturana encontrada no
Brasil tem veneno capaz de matar uma pessoa
O Instituto Butantan alerta
para os perigos do contato de pessoas com os “espinhos” envenenados de
taturanas (ou lagartas) do gênero Lonomia, que apenas em 2017 foram
responsáveis por 741 acidentes no país, de acordo com o Ministério da Saúde. O
contato com a grande maioria das lagartas provoca dor e queimação, com inchaço
e vermelhidão no local atingido. Porém, o acidente com a Lonomia pode causar uma síndrome hemorrágica, com sangramento na gengiva e
na urina, até complicações graves como a insuficiência renal aguda, provocando
a morte na falta de um tratamento correto.
Atualmente, o tratamento
disponível para reverter os efeitos do envenenamento é a utilização do soro
antilonômico produzido pelo Instituto Butantan desde 1994, único produtor do
medicamento no mundo. O soro é obtido a partir do próprio veneno da Lonomia, em um processo no qual animais são imunizados com antígenos
específicos e preparados com a toxina da lagarta.
Para manter a disponibilidade
do medicamento, o Instituto recebe a cada ano uma quantidade suficiente dessas
lagartas por meio de parcerias com secretarias de saúde da região Sul do país,
geralmente entre os meses de dezembro e fevereiro. “Existe uma cadeia de
participação para a produção do soro que envolve a população, órgãos de saúde e
o Instituto Butantan. Tudo isso para viabilizar o soro”, explica Fan Hui Wen,
gestora de projetos do Núcleo Estratégico de Venenos e Antivenenos do Butantan.
“Na
medida em que divulgamos a existência dessas lagartas consequentemente se
estabelecem ações de prevenção”, explica a médica do Butantan.
Sobre
a espécie
A Lonomia é um inseto em fase larval que possui quatro estágios de
desenvolvimento – ovo, lagarta, pupa e mariposa – frequentemente encontrada nos
períodos de calor e chuva em troncos de árvores, camufladas e agrupadas em
colônias. Somente na fase de larval a lagarta possui cerdas “espinhudas” que
contêm um veneno que, em contato com a pele, causa “queimaduras”, dor local e
sangramentos. Os acidentes com Lonomia nem sempre causam
envenenamento e a gravidade do caso depende da quantidade de lagartas que a
pessoa tocou e o quanto de veneno foi inoculado a partir do contato, se foi um
contato leve ou se houve pressão sobre as cerdas.
O encontro da lagarta com o
homem deve-se provavelmente ao desmatamento e é facilitado pela existência de
moradias próximas à ilhas de mata nativa, inclusive no meio urbano.
Desmatamento
Os motivos da expansão
populacional da taturana Lonomia obliquaforam identificados pelo
pesquisador Roberto Henrique Pinto Moraes já em 2002. “O desmatamento é o
responsável pelo aumento populacional da taturana; o número de acidentes é
consequência”, afirmou Moraes, em reportagem divulgada pela Universidade de São
Paulo (USP) em 2003.
Diminuição
de predadores explica avanço da taturana
Outra razão para o aumento da
população da taturana do gênero Lonomia é a extinção de um ou
mais de seus predadores naturais. O principal deles é uma mosca da família
Tachinidae. Ela deposita cinco ou seis ovos. Outro predador é o vírus loobMNPV,
nocivo apenas para a Lonomia
obliqua. Entre os motivos de extinção
dos predadores estariam o desmatamento e o uso de agrotóxicos nas plantações.
“Para reduzir acidentes o melhor é a conscientização. Conhecer a lagarta e
saber como evitá-la”, alerta Moraes.
(fonte: G1 – Terra da
Gente)