LUIS BORGES
*por Sérgio Marchetti
“Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.” ( Fernando Pessoa)
As pessoas que me procuram para participar de cursos e aulas individuais de oratória apresentam sempre um ponto comum, que é informado por eles: o nervosismo.
Para mim, que estou há 25 anos ministrando cursos de oratória, não é nenhuma novidade. O que desconhecem, entretanto, é que há outros problemas que, se solucionados, irão contribuir com a diminuição do nervosismo. São vários, mas, hoje, quero destacar o vocabulário.
Em ocasiões anteriores, cheguei a falar sobre a variação do vocabulário, dependendo de cada ambiente. Na leitura de um texto num tribunal, há, data vênia, a aplicação de palavras técnicas, antigas, eruditas e incompreensíveis para alguns. Num discurso médico, os termos técnicos também podem não ser entendidos por leigos. E assim acontece com cada segmento. A comunicação tem inúmeras línguas que, por sua vez, apresentam linguagens diferentes.
Imagine que a língua portuguesa tenha em torno de 600 mil palavras (Ieda Alves), presuma quantas palavras você utiliza em seu vocabulário. Há uma disparidade enorme entre o que temos à disposição e o que realmente aplicamos. Com isso, chegamos à conclusão de que não precisávamos de tantas palavras, porém, não satisfeitos linguisticamente, ainda criamos vocábulos novos e importamos muitos outros de várias línguas, sobretudo do inglês. O estrangeirismo ou barbarismo acomete todas as línguas.
O que sugiro aos meus alunos é que procurem ampliar seus vocabulários, anotando algumas palavras que ouvem numa palestra ou reunião, mas que não têm o hábito de usar. Outro exercício interessante é ler uma frase já escrita e alterar todas (ou quase todas) as palavras, sem que haja a mínima perda do sentido do texto.
Conhecer as palavras e saber quando usá-las é como aprender etiqueta e saber que cada talher tem sua função. Os vocábulos têm vida própria, são específicos para transmitir uma mensagem com exatidão. Ou seja, obter êxito na semântica.
Quero chamar a atenção, também, para expressões e alguns contextos curiosos. No futebol, por exemplo, um antigo – e já falecido – técnico da nossa seleção descobriu o ponto futuro e, como não ganhou nada, deve ser deixado num ponto do passado. Mas, em outra decepcionante Copa do Mundo, aqui no Brasil (gol da Alemanha, gol da Alemanha, outro gol da Alemanha… Chega!), disseram que faltou atitude. Já falei disso, mas tem mais: agora, jogadores flutuam em campo. Talvez imaginem o ponto futuro e voem. Aí, os comentaristas, praticando o neologismo, inventaram jogadas cirúrgicas e a falta de gols é atribuída a erro na tomada de decisão. Mas não satisfeitos, ainda fazem análises psicológicas e atribuem as derrotas ao estado anímico dos jogadores. A palavra, vinda do latim “anima” ou do grego “psykhé” significa “alma”, e deve exigir um religioso para cuidar daqueles pobres atletas que padecem em sua pesada labuta. Sendo latim ou grego, nossos times estão longe de atingir um patamar que nos faça ter orgulho deles.
Para ser bem sincero, acreditava mais quando os jogadores não flutuavam, apenas corriam nos gramados com os pés firmes no chão, o coração na ponta da chuteira preta e com muita vontade de vencer.
*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.
*por Sérgio Marchetti “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.” ( Fernando Pessoa) As pessoas que me procuram para participar de cursos e aulas individuais de oratória apresentam sempre um ponto comum, que é informado por eles: o nervosismo. Para mim, que estou há 25 anos ministrando cursos de oratória, …