Há mais de 100 anos, pesquisadores procuravam uma caverna perdida, que havia desaparecido dos registros após várias mudanças de nomenclatura. Originalmente batizada em 1835, sob o nome de Lapa de Quatro Bocas, a cavidade subterrânea foi finalmente relocalizada, no município de Curvelo, na região central de Minas Gerais.
A estrutura geológica "perdida" estava registrada sob outro nome: Gruta do Tatu. A verdadeira “identidade” da caverna só veio à tona graças a uma investigação conduzida por pesquisadores do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte.Para redescobrir o local, os especialistas analisaram os registros originais da caverna, que foi descoberta pela primeira vez pelo cientista dinamarquês Peter Lund (1801 - 1880). Em seguida, compararam os dados com os de mapas atuais da região de Curvelo e conduziram trabalhos de campo com equipamentos como trenas, bússolas e lanternas. Durante o século 19, Lund, que é apelidado de “pai da paleontologia”, produziu registros preciosos sobre centenas de outras cavernas em Minas Gerais. Suas descobertas ajudam pesquisadores até hoje e também incluem mais de 12 mil peças fósseis, localizadas na região de Lagoa Santa.
"O fato de estarmos apresentando a descoberta [da caverna] este ano é especialmente gratificante. Afinal, trata-se da comemoração dos 220 anos do nascimento de Peter Lund”, celebra Luciano Emerich Faria, um dos responsáveis pelo estudo, em comunicado à imprensa. O pesquisador espera que o achado sirva para divulgar o legado de Lund. "Acredito que seja importante valorizar a atuação de cientistas de gerações passadas, pois eles abriram caminho para muitas de nossas conquistas atuais", comenta Faria, que planeja apresentar suas conclusões na próxima edição do Congresso Internacional de Espeleologia. A redescoberta da Lapa de Quatro Bocas é importante pois a estrutura geológica é bem singular, com uma extensão acima da média e é subdivida em dois níveis. Como toda caverna, ela é formada pela ação das águas ao longo do tempo.
O fato da estrutura estar em Minas Gerais não é mero acaso. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o estado concentra 38,5% de todas as 16.034 cavidades naturais do país. Destacam-se pelo seu importante papel econômico e turístico as grutas da Lapinha, de Maquiné e Rei do Mato.
Vale lembrar também que o ano de 2021 foi escolhido pela União Internacional de Espeleologia (UIS) como o ano internacional das cavernas. Com sede na Eslovênia, a organização pretende promover ações e debates para conscientizar governos e populações ao redor do planeta sobre a importância de preservar essas cavidades subterrâneas.