Estudos
mostram redução na prática de atividades físicas devido à pandemia, mas
é possível manter a saúde física e mental, mesmo com as dificuldades e
incertezas
CURITIBA, 05/05/2021 - Um
estudo conduzido por sete pesquisadores de quatro universidades
(Cambridge e Ulster, na Inglaterra, Yonsei, na Coreia do Sul, e
abrasileira Federal de Santa Maria) mostrou que os índices de atividade
física caíram de forma significativa durante a pandemia. Publicado em
fevereiro de 2021 com o título “Mudanças na atividade física e em
comportamentos sedentários de antes e durante a pandemia de Covid-19:
uma revisão sistemática”, a pesquisa mostrou que a prática de atividades
físicas e a diminuição de comportamentos sedentários afetam
positivamente “tanto a saúde física quanto a mental”, recomendando a
divulgação de maneiras para elevar as taxas de exercícios, especialmente
durante a pandemia.
A
pesquisa sugere que o isolamento social, assim como a mudança para o
home office, contribuiu para a queda das atividades físicas e com o
aumento do tempo de sedentarismo e a permanência à frente de telas.
Especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e em Cardiologia,
Marcelo Bichels Leitão, que faz parte do movimento “O Que Conecta Você às Pessoas”, idealizado pela startup MCities (www.mcities.com.br), com foco na saúde física e mental no período da pandemia,
afirma que é fundamental se manter ativo durante este momento por
inúmeros motivos: melhora da resposta imunológica (inclusive para
vacinas), evoluções mais brandas de doenças e benefícios metabólicos,
entre outros.
“Se
pensarmos também na saúde mental, o exercício físico ajuda a reduzir os
níveis de ansiedade e depressão, que têm demonstrado, segundo estudos,
um aumento significativo pela pandemia”, diz o também membro da
diretoria da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte
(SBMEE). Muitas pessoas se sentem inseguras para sair de casa, mas não é
motivo para deixar a atividade física de lado: boa parte dos exercícios
pode ser realizados de maneira saudável dentro de casa.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 minutos de
atividades aeróbicas de baixa intensidade e duas sessões de exercícios
de força semanais. “A imensa maioria das pessoas que está habituada vai
manter atividades que já conhecem, adaptando condições, como a corrida
na esteira. Em geral, essas pessoas já conhecem a resposta do seu
organismo ao exercício”, explica.
Se
a pessoa for sedentária, por outro lado, é preciso ter mais cuidado.
“Para quem nunca fez exercício físico, a recomendação é para iniciar em
atividades de intensidade mais suave e, desde que não tenha queixas,
como dores articulares ou musculares, cansaço desproporcional, aperto no
peito, pode ir aumentando a duração e a intensidade do exercício de
forma gradativa”, acrescenta. Em caso de dúvidas, é possível buscar
orientação por meio da telemedicina.
Um olhar para a saúde mental
Diretor
da Cadmo Clínica Médica, o médico psiquiatra Gustavo Sehnem afirma que,
assim como o corpo, a saúde mental também é afetada pela pandemia.
Situações como o distanciamento social, a incerteza e a insegurança
modificaram a rotina e o planejamento de muitas pessoas, afetando os
seus hábitos, o que pode refletir na saúde mental. “O estresse
prolongado pode ser motivador para situações de ansiedade, depressão,
entre outros quadros”, diz Sehnem.
O
home office fez com que muitas pessoas não consigam definir os horários
para se desconectar. Em muitos casos, no início da pandemia, as pessoas
se tornaram até mais produtivas, mas não é algo sustentável. “O
organismo é interligado. A criação de hábitos, uma rotina de sono, uma
alimentação equilibrada e horários de atividade física interferem no dia
a dia. Na clínica, observamos como a rotina é importante para as
pessoas com os mais diversos quadros”, explica Sehnem.
Não
é só um potencial aumento de trabalho que gera problemas. Para muitas
pessoas, controlar o tempo de exposição às telas – a internet, em
especial – se tornou uma dificuldade. “Na pandemia, ficou claro que
muitos dos maus hábitos se devem ao uso indevido da tecnologia,
incluindo a desculpa da ‘falta de tempo’ para deixar de praticar
atividades físicas”, afirma Leitão.
Dicas para sua saúde
Segundo
Sehnem, pessoas ansiosas ou depressivas podem ter dificuldade em fazer
uma autoavaliação para perceber se estão mais angustiadas ou irritadas.
“Nesses casos, é importante ouvir a opinião dos familiares: eles estão
criticando certos comportamentos? A internet atua no setor de prazer e
de recompensa cerebral, o que pode gerar quadros compulsivos”, explica.
O
contato com familiares, inclusive, é um dos focos do movimento “O Que
Conecta Você às Pessoas?”. As ações propostas pela MCities nesta
campanha envolvem uma maior atenção à família e também à rotina, que foi
modificada com a pandemia e precisa ser retomada de maneira
responsável, com atenção para a saúde mental e física. “Qualquer simples
estímulo positivo de uso do tempo tem poder de criar um ambiente
favorável para o enfrentamento dos maus hábitos”, comenta Paulo Hansted,
CEO da MCities.
Ficando
atento às recomendações das Secretarias de Saúde em relação a bandeiras
mais brandas, é possível praticar exercícios em espaços abertos. “O
estímulo tem que existir”, opina Hansted. “Não se deve abandonar os
passeios com animais de estimação, mesmo que seja para dar uma volta na
quadra. Isso mantém a atividade física e ainda dá estímulos visuais, por
exemplo, que aliviam a tensão psicológica do momento.”
Aproveitando situações
O médico psiquiatra dá outras dicas para gerenciar a saúde:
- Crie uma rotina:
Divida as 24 horas do dia de forma organizada: 6 a 8 horas de sono,
preferencialmente noturno; 8 horas para se manter intelectualmente
ativo; 8 horas para se alimentar, fazer atividade física, momentos de
lazer e de relação com a família.
- Estimule os seus hobbies: Descubra algo que te dê prazer (leitura, música, estudos) e o incentive dentro de suas possibilidades.
- Não agrida o seu organismo: Observe
atividades que dão prazer imediato, caso do álcool ou comer de forma
compulsiva. Em geral, elas geram prazer imediato, mas são prejudiciais
no longo prazo.
- Faça coisas por você: Questione-se:
“O que tenho feito por mim? A alegria é contagiante, assim como a
irritabilidade. Se eu estiver bem, consigo estar melhor para a minha
família e o trabalho. Não é ser egoísta, mas cuidar de si”, explica
Sehnem.
- Saia da rotina: Dentro do que for possível, siga as orientações das autoridades e mude a sua rotina, o que ajuda a recarregar as baterias.
- Filtre o que assiste: Evite
permanecer muito tempo em redes sociais ou assistindo ao noticiário.
“Somos influenciados pelo que lemos e assistimos”, completa Sehnem.