O nióbio é um metal de transição capaz de transformar as
propriedades de outros materiais. Foi descoberto em 1801, quando o químico
inglês Charles Hatchett analisou um pedaço do mineral columbita e identificou
ali um material bem diferente daqueles já conhecidos. Cento e vinte anos
depois, este elemento, identificado pelo símbolo Nb na tabela periódica,
tornou-se um verdadeiro coringa para a indústria, presente em segmentos
distintos como mobilidade urbana, infraestrutura, energia, saúde e engenharia aeroespacial. Uma excelente notícia para o
Brasil, maior referência na produção do metal em todo o mundo. A CBMM, por exemplo,
investe entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões no programa de tecnologia, que
tem como objetivo desenvolver novas soluções e aplicações com base em nióbio
para diferentes setores.
O Brasil possui 90% do mercado mundial
de nióbio, sendo a CBMM pioneira
no desenvolvimento de suas inúmeras aplicações. “Se voltarmos seis décadas no
tempo, o mercado era igual a zero. A CBMM, além de desenvolver processos em
Araxá, fez um grande trabalho de explicar para o mundo o benefício de adicionar
esse metal nas mais diversas aplicações, tanto no Brasil como no exterior.
Talvez essa seja a principal virtude que fez da empresa referência mundial”,
disse Giuliano
Fernandes, head de marketing e comunicação da companhia
mineira. O pioneirismo da CBMM passa
por relevantes parcerias que firmou com universidades do país. Nas décadas de
70 e 80, um acordo com o Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de
Engenharia de Lorena, ligado à Universidade de São
Paulo (USP), teve papel importante de desenvolvimento do
conhecimento técnico para ampliar a produção de nióbio puro. “Um dos mais
exitosos exemplos de cooperação entre centro de pesquisa e indústria. Praticamente
do nada se criou o que temos hoje. Conseguimos, ao longo de 15 anos,
desenvolver toda a tecnologia de produção de nióbio”, contou o engenheiro
químico Hugo Sandim, professor da USP.
Para
que serve o nióbio?
Ao
longo dos anos, com o avanço da ciência de materiais, as principais
características do nióbio foram descobertas: alta condutividade térmica e
elétrica, maleabilidade, ductilidade — que é a capacidade de deformar sem
quebrar —, alta resistência à corrosão, ao calor e ao desgaste. Entre suas
inúmeras aplicações, a mais conhecida está relacionada à siderurgia, segmento
que utiliza o metal há mais de meio século. Para se ter uma ideia, 80% do
volume de vendas da CBMM atendem
esse segmento. Quando misturado ao nióbio purificado, o aço fica
consideravelmente mais resistente, razão pela qual o brasileiríssimo Nb se
expandiu para o setor de energia. Na década de 60, as empresas da área já
haviam se dado conta de que a liga metálica de ferronióbio é fundamental para o
transporte de gás. “Toda tubulação de gás usa nióbio. Pequenas quantidades
alteram a composição do aço. Quando você refina o grão e dá propriedade ao aço,
ele fica mais resistente, mais tenaz. Então, para a tubulação de gás, é
importantíssimo”, explicou Rogerio
Pastore, head de desenvolvimento do mercado global (setor de energia) da CBMM.
Produzidos
em formas de fitas a partir de uma liga com aproximadamente 6% de nióbio
em sua composição, os nanocristais, materiais 10 mil vezes menores do que
um grão de aço, alvoroçaram a indústria eletrônica e a automobilística. “Eles têm
propriedades magnéticas excelentes. E hoje, com toda essa revolução dos
celulares, são cada vez mais demandados. É um material que cresce a números
quase que exponenciais todo ano”, pontuou Pastore. Um dos exemplos do poder
transformador do nióbio é o carregamento de aparelhos de celular sem fio. “A
função da fita de nanocristal dentro do celular é fazer com que o aparelho não
interfira no carregador e vice-versa.” Além de contribuir para a evolução
do wireless,
os nanocristais geram alta precisão em medidores de energia. Na indústria
automotiva, o uso de baterias de nióbio em carros eletrificados revela
cooperação deste elemento para um mundo mais sustentável, mas não é de hoje que
este setor aproveita os benefícios do metal. “A melhoria de segurança veicular
exige materiais mais resistentes e mais avançados, e o nióbio se mostrou um
grande aliado desta revolução que aconteceu”, disse Fernandes.
A
aviação também está inserida na revolução do nióbio. Os
pesquisadores hoje buscam saber se existe a possibilidade de uma liga à base do
metal nas turbinas das aeronaves. A ciência, por sua vez, trabalha com
aplicações para nos levar a voos mais longos. O foguete Falcon 9, lançado
em novembro do ano passado em direção à Estação Espacial Internacional, levando
a capsula Dragon com quatro tripulantes, tem ligas especiais baseadas ou
contendo nióbio nos motores de propulsão e na ponta do foguete. O
investimento em pesquisa e desenvolvimento fez com que o Brasil desse os
primeiros passos e se tornasse referência nesse segmento há mais de seis
décadas. Esse mesmo investimento vai garantir posição de relevância para o país
no futuro.
FONTE: JOVEM PAN