Cerca de 66% dos brasileiros consideram que o seu gosto pela leitura
não foi influenciado por ninguém no período da infância — os dados são
da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil do ano de 2019. Entre os que
consideram que receberam estímulos, os professores ou uma responsável do
sexo feminino foram os mais apontados como incentivadores do hábito.
Gostar de ler é uma característica que muitos pais querem ver em seus
filhos. Afinal, a leitura ajuda na construção textual e de vocabulário e
otimiza a interpretação de texto e a absorção de conhecimento.
Mas os benefícios atribuídos a esse hábito vão além da atividade em
si, conforme explica Rafaelly Carvalho da Silva Molina, coordenadora de
Educação Infantil do Colégio Marista Cascavel: “Chamamos de habilidade
visomotora a capacidade de observar, reconhecer e usar as informações
visuais sobre formas, figuras e objetos, e é por meio dela que as
crianças processam as informações e compreendem o mundo ao seu redor.
Por isso, o incentivo precisa partir de práticas do dia a dia, antes
mesmo de elas despertarem para a leitura e a escrita”.
Se a contribuição dos pais é importante, é preciso que eles tomem
cuidado para não deixar que as suas expectativas sobre o ritmo de
aprendizagem interfiram negativamente na relação dos pequenos com a
leitura. “Os estímulos que as crianças recebem nesta fase impactam o
modo como elas aprendem durante o restante da vida. A atenção dos
responsáveis nesse processo é fundamental para conseguir conduzi-las
para uma ação prazerosa, sem causar futuras frustrações”, complementa
Rafaelly.
Para incentivar a leitura sem frustrações
O momento, de acordo com as educadoras, pede leveza e ludicidade.
Oferecer o manuseio e o contato com os livros, deixando que as crianças
sintam o cheiro, as texturas e tenham contato com a escuta de uma boa
leitura são formas de ajudá-las no desenvolvimento psicomotor, cognitivo
e intelectual, o que potencializa o hábito da leitura.
É aí que a contação de histórias surge como uma dica valiosa, segundo
a professora do Colégio Marista Cascavel, Tatiana Aparecida Lobo:
“Dependendo de como a criança ouve uma história, ela vai para o mundo
imaginário e se coloca como participante”. Para que os pais consigam
esse efeito, devem fazer da contação um momento descontraído que, além
de dar asas à imaginação, pode semear o gosto pela leitura.
A professora Tatiana sugere que o livro seja dividido em partes, como
se fosse uma série: “Isso faz com que a história fique mais
emocionante”. Para os menores, indica escolher histórias curtas, fazer
vozes e entonações diferentes e parar para fazer perguntas sobre o
enredo, como “O que será que vai acontecer?”; “Como será que isso
aconteceu?”; “E agora? O que você faria?”. Assim, a criança se sente
mais parte da história.
Boas opções são os livros recheados de aventuras, mas a escolha
também pode depender da idade da criança e dos valores que os pais
pretendem passar com a leitura.
Confira algumas dicas de livros para a hora da história:
“Alice no País das Maravilhas” (Lewis Carroll);
“O Mágico de Oz” (L. Frank Baum);
“Vinte Mil Léguas Submarinas” (Júlio Verne);
“As Viagens de Gulliver” (Jonathan Swift);
“A Volta ao Mundo em 80 Dias” (Júlio Verne);
Quero um abraço, o que é que faço? (Jeanne Willis e Tony Ross, com tradução de Ana Maria Machado);
50 Contos de Machado de Assis (seleção de John Gledson).