No dia 19 de março completam-se dois anos e quatro meses que entrou em vigor a tão decantada Reforma da Previdência Social para o setor privado e que está sendo implementada pelo INSS. Como sempre, o instituto é rápido para arrecadar e lento para pagar os benefícios, que tiveram perdas consolidadas em função das premissas e critérios que passaram a vigorar com a reforma. Por sua vez, esta reforma foi vendida como a panaceia para todos os males e enfatizou muito a busca do equilíbrio do caixa em função do crescimento da expectativa de vida e do aumento da longevidade.
Ainda que insuficiente ou ruim, e convivendo com a perda do poder aquisitivo diante da alta inflação, ela é o que se tem para hoje, mesmo que minimamente, perante as necessidades reais e da baixíssima mobilização política desses aposentados para reivindicar reposições de perdas.
Ouço com frequência relatos de casos em que aposentados pelo INSS voltaram a trabalhar para melhorar a renda em função da insuficiência dos proventos, isso quando encontram uma oportunidade para o seu perfil. Outra situação, embora mais rara no que ouço, é quando o aposentado não aguenta ficar em casa no ócio improdutivo e começa a tentar uma nova oportunidade no mercado para não pirar diante da falta de perspectivas nessa fase da vida.
Esse é o meu ponto aqui, para registrar o caso de um engenheiro que se aposentou há pouco mais de um ano e que acabou conseguindo uma nova oportunidade no mercado no início de 2022, quando chegou aos 63 de idade. Ele é casado, pai de 3 filhos na faixa dos 20 aos 26, e sempre residiu em Belo Horizonte com a família, mas na maior parte do tempo trabalhou fora da cidade em obras de médio e grande porte de diferentes segmentos da economia. Acabou fazendo uma razoável reserva financeira, cujas aplicações se somam aos proventos da aposentadoria e garantem uma boa condição de vida à família.
Entretanto, ao se ver aposentado, em casa, longe da alta energia que o dia-a-dia exigia em meio à crescente ansiedade para cumprir as metas estabelecidas, o vazio foi inevitável – mesmo podendo conviver diariamente com todos os seus familiares. Até então isso só era possível basicamente nas folgas e nas férias.
A volta para dentro de casa sem planejar como seria a nova etapa da vida e o que poderia advir do novo cenário acabou gerando muitos conflitos, alguns até assustadores, entre os membros da família. Vivendo diuturnamente em casa, o engenheiro passou um tempo questionando tudo da rotina diária, desde os gastos aumentados com a alta da inflação, passando pelo comportamento dos filhos nas redes sociais e até mesmo o jeito da esposa lidar com a diarista que presta serviços duas vezes por semana para lavar e passar roupas, bem como arrumar toda a casa.
Esgotada essa fase, o engenheiro voltou seu foco para estudar como fazer para obter ganhos reais nas aplicações financeiras, sendo seu perfil conservador para investimentos. Tudo foi ficando muito tenso, ansiedade só aumentando, o psiquiatra dobrando a dose das pílulas ansiolíticas e o clima na família cada vez mais pesado. De repente, o fim de semana foi estendido e passou a ser de quarta a domingo, regado por generosas doses de bebidas alcoólicas destiladas. Até o tabaco industrializado voltou à cena após 25 anos sem ser usado.
Num belo dia do final do ano passado o engenheiro foi sondado sobre o interesse em voltar a trabalhar na mesma empresa onde atuou nos últimos 20 anos até se aposentar. A família deu pulos de alegria e o engenheiro voltou a trabalhar, tentando romper com o marasmo declinante em que entrara. Além disso, a volta acabou se tornando uma oportunidade para reforçar a renda e também para melhor se preparar em todos os aspectos, inclusive mental, para o momento em que se aposentará definitivamente sem ter que ficar apenas recolhido aos aposentos.
De novo, o planejamento e a gestão gritam.
Quando nada, esse caso nos faz pensar – e muito. Que lições podemos aprender com isso?