quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

COLUNA DO ERNESTO ROSA:




O primeiro sistema de abastecimento de água de Araxá foi um rego público puxado de um açude que ficava na nascente do córrego do final da Avenida Ecológica.
O local era de mata fechada que se chamava Capão do Fagundinho. O açude era quase que apenas para desviar água do córrego. Dali saia o rego que ia descendo, meio paralelo à atual avenida, distanciando-se dela, fazendo curva à esquerda saindo da mata e pegando o campo em direção ao povoado.
 
A água corria com 0,003% de declive, isto é, descia 3 metros em cada quilômetro. Passava pelo ponto final da Av. Getúlio Vargas, começo do Tobogã, cortava a Rua Calimério Guimarães, passava acima de onde é a Santa Casa. Dobrando um pouco, tornava a cortar a Calimério, seguindo por onde hoje seria entre as ruas Calimério Guimarães e Dr. Franklin de Castro, chegando ao Largo Da Matriz, onde hoje é a praça Cel. Adolpho, local em que foi construída a antiga Igreja Matriz, já demolida. Dali, descia mais ou menos acompanhando a Rua Capitão José Porfírio, correndo para o córrego do Lavapés.
Esse rego de abastecimento foi feito há cerca de 230 anos, no começo da construção da Matriz antiga que ocorreu entre 1785 e 1800. Ele passava atrás da igreja. Na verdade, primeiro foi determinado o local do rego, depois onde ficaria a igreja, o que definiu a praça. O povoado já existia, mais para baixo, desde 1780.
 
Várias casas foram construídas do lado debaixo do rego, cada uma com um puxado, uma pena d’água. Com isso, as frentes dessas casas acabaram formando uma rua que hoje é a Dr. Franklin de Castro.
Outra possibilidade para obter água era furar cisternas, principalmente aqueles que não conseguiam pegar água do rego. Também buscavam água no córrego ou na antiga Banheira.
Pesquisando no Arquivo Público Mineiro, em BH, encontrei um documento datado de 1851 (faz 164 anos), onde o Presidente da Província de Minas Gerais autoriza a Câmara Municipal da Villa do Araxá a nomear um administrador do rego público. Era sua obrigação, cuidar do rego, mandar limpar “desde o açude até o córrego do Lavapés”, cobrar 2 mil reis de cada usuário, por pena d’água e multar contraventores,
Com o desenvolvimento de Araxá, o rego ficou inconveniente e as pessoas deixaram de utilizá-lo, optando por cisternas. Água correndo na natureza virgem é uma coisa, correndo em lugar muito habitado e com muitos animais é outra. O rego pisoteado ficou sujo e apropriado para a proliferação de pernilongos. Em 1885 não mais existia. Dele restou apenas uma lenda de que haveria uma trinca no solo ao longo da Rua Calimério Guimarães, para os lados da Santa Casa.
Em 1908, na administração do prefeito Dr. Franklin de Castro, foi captada água de nascentes perto da Boca da Mata e conduzida por gravidade, não a céu aberto, mas em tubos até o reservatório que ficava perto da rotatória das avenidas Imbiara e Senador Montando, a chamada Caixa d’Água, que era apenas uma “piscina” coberta. Foi uma grande festa em Araxá, Mas o rápido crescimento da cidade tornou esse sistema inadequado, provocando grande insatisfação.
Em 1914, com a inauguração do serviço de eletricidade, foram instaladas bombas elétricas, mais para baixo do antigo açude do Rego Público, ao lado da Rua Dr. Edmar Cunha, que fornecia mais alguns metros cúbicos de água ao reservatório. Entretanto, o crescimento da cidade passou a exigir maior quantidade do necessário líquido. Na administração do prefeito Fausto Alvim, foram furados poços que, com ar comprimido, elevava mais água até o reservatório.
Em 1973, o serviço foi terceirizado para a COPASA, que fornece uma excelente e bem tratada água, acompanhando o crescimento da cidade.
Estive visitando a COPASA e fui muito bem recebido pelos engenheiros Jairo, João Eduardo e Odair que me forneceram as informações técnicas necessárias à determinação do antigo trajeto do rego público. Com isso pude elaborar um mapa, de 1795, com o açude e o rego até ao Córrego do Lavapés.
( Fonte> JORNAL INTERAÇÃO)

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