Muitas aventuras podem ser
medidas pelo grau de dificuldades, pelo grau de coragem que a situação requer,
pela exigência de um condicionamento físico e psicológico e até pelo alto risco
de morte que a situação impõe. Existem aventuras que além de todas essas
exigências conta com o fator natureza que pode diminuir e aumentar todos essas dificuldades
que a situação exige e até impedir que a aventura aconteça. A ultra maratonista
em águas abertas Catarina Almeida Porfírio pode vivenciar em 80 dias todos os
requintes, desgastes e riscos para uma super aventura, em um curto período de
tempo foram duas tentativas de travessia do Canal da Mancha com condições climáticas
totalmente adversas, depois de tanto sacrifício Catarina ousou desafiar a
travessia do Leme ao Pontal no Rio de Janeiro, como a primeira pessoa a tentar fazer ida e volta, ela já faz
parte do seleto grupo de 22 pessoas que conseguiram fazer a travessia de ida,
apenas 6 mulheres conseguiram o feito, sua conquista aconteceu em janeiro deste
ano como preparação para o Canal da Mancha. Desafio inédito, ninguém havia tentado ida e volta. Neste
período, suportou frio, desgaste psicológico com martírio da espera para
condições favoráveis para poder realizar suas tentativas, saudade da família, e
principalmente desgastes físicos com treinamentos intensos e condições
totalmente desfavoráveis para realização de suas provas. Depois de dois anos de treinamentos intensos
para se condicionar física e psicologicamente,
conquistou o seleto direito de realizar a travessia do Canal da Mancha,
a atleta se viu preparada para estes desafios, não mediu esforços desafiando um
maratona de alta resistência com três grandes desafios em um prazo curto de 80
dias.
05 de setembro – Canal da Mancha - O primeiro desafio foi na
travessia do Canal da Mancha, que liga a cidade de Dover na Inglaterra, à
cidade de Calais na França, no início do mês de agosto, um percurso de 35 km
que pode ultrapassar os 40 por causas das mudanças das marés. Já na Inglaterra,
depois de duas liberações e posterior cancelamento antes da largada para a
travessia por causa das condições climáticas desfavoráveis, a atleta Catarina
foi liberada para a tentativa em condições limites de segurança, muito acima
das condições ideais para a travessia com ventos fortes, mar agitado,
temperatura da água abaixo dos 15 graus. Mesmo com tanta adversidade Catarina ficou
8 horas e meia nadando, aproximadamente 24 km
percorridos; dores insuportáveis provenientes do frio excessivo, foram
os principais motivos que impediram a conclusão do trajeto. O treinador e toda
sua equipe, conscientes que as condições não estavam ideais para travessia,
deixaram por conta da atleta para decidir se tentaria, afinal foi muito tempo
se preparando para este sonho, no final tiveram a certeza que fisicamente
Catarina estava muito bem, depois de 8 horas e meia naquele mar gelado e
agitado, ela mantinha as braçadas fortes em um ritmo muito bom. O treinador afirmou
que em condições de mar normal, menos de 10% conseguem realizar a travessia.
Diante do expressivo feito uma semana após voltar da Inglaterra Catarina foi
convidada a fazer uma nova tentativa no Canal da Mancha (as janelas de uma
semana para realização da travessia, são agendadas pelo menos um ano antes,
algo impensável para aquele momento). A surpresa veio quando houve a
desistência de uma atleta que iria fazer
a tentativa no final de setembro e inicio de outubro últimos dias de janela
pois a temporada de travessia estava chegando ao final pelo fim do verão na
Inglaterra, Catarina foi convidada para ocupar a vaga, de imediato foi um susto
mas analisando com frieza, com o apoio do marido Dr. Humberto, Catarina
concluiu que o momento era favorável devido o seu condicionamento físico totalmente
preparado e agora com a experiência da primeira tentativa a oportunidade era
muito favorável. Corajosa, destemida e cheia de confiança a super atleta
Catarina partiu novamente para esta nova aventura.
Consciente das dificuldades que
passou há poucos dias, sabia que o maior tormento seria expectativa de espera
para abertura de janela para que autorizasse sua largada, pois este verão na
Inglaterra estava atípico com condições climáticas abaixo do ideal para este
tipo de travessia. Por mais que o atleta esteja preparado para uma aventura
radical desta natureza , por mais que se treine, estude e receba orientações de
treinadores, atletas que já tentaram ou realizaram a travessia, todos relatam
que é muito tensa a ansiedade, a adrenalina, a emoção, sem contar o medo
natural pelo alto grau de dificuldade e riscos iminentes como: contato certo
com águas vivas, tráfego intenso de navios, e risco de hipotermia devido a
baixa temperatura da água o qual muitos acreditam ser um dos maiores
obstáculos, além é claro do esforço físico intenso em torno de 16h. Uma
aventura que exige altas doses de determinação, excepcional preparo físico e
muita coragem.
28 de setembro novamente Canal da Mancha - Foram 10 dias de muita expectativa, as
condições sempre no limite, com muito vento, altas ondas, em qualquer melhora
de previsão os fiscais ameaçavam para liberação da travessia mas pouco tempo
depois comunicava que as condições pioraram. Foram dias intermináveis de muita
pressão, muita angustia, uma vontade louca de poder cair na água para encarar
de novo aquele desafio, agora com mais confiança, experiência e certeza de
superação. Neste período de espera a atleta mantém toda disciplina de
treinamento, fazendo ali várias horas diárias de treinamentos no próprio mar
que irá enfrentar. Houve uma expectativa
muito grande para o último dia de janela, as previsões mostravam uma melhora
considerável para aquele dia, chegaram a marcar a hora da liberação, “entrei em
fase final de preparação, alimentação, repouso e concentração, a menos de uma
hora da liberação veio uma determinação final, para esta temporada, estava
fechada qualquer tentativa de travessia a nado do Canal da Mancha”, lamentou
Catarina. Apesar da frustração de não ter tido sequer a oportunidade de tentar
a travessia novamente, Catarina respirou fundo, lamentou, mas considerou
positivo todo seu esforço, sua vontade, agradeceu por prevalecer a vontade de
Deus que esteve presente todos os dias.
29 de outubro – Leme
ao Pontal – A araxaense Catarina Almeida Porfírio depois de desafiar o
Canal da Mancha na Inglaterra por duas vezes, estava de volta a sua praia,
local onde havia adquirido o sonho de desafiar outros mares, no qual é detentora
de grandes marcas, dentre elas de ter concluído a Travessia do Leme ao Pontal
na modalidade solo sem neoprene, restrito a apenas 22 atletas dentre eles
somente seis mulheres. Os super-atletas buscam sempre novos desafios para
alimentarem os seus desejos, suas vontades de desafiar, suas buscas por emoções
fortes e as águas geladas do Canal da Mancha foram o gatilho para despertar em
Catarina um novo sonho, uma nova vontade de desafiar, a atleta agora ousou
desafiar a travessia do Leme ao Pontal em ida e volta, potencializando as
dificuldades, distância de 72km, mudança corrente marítima devido a elevado
tempo de duração, o cansaço e as intempéries que o mar oferece. Um desafio tão
difícil que de inicio já escreveu seu nome na historia como o primeiro ser
humano a ousar tentar concluir esta façanha, impensável até o momento.
Consciente do grande desafio, das dificuldades, Catarina estava confiante
devido ao dois anos de preparação para o desafio de travessia do Canal da
Mancha.
Após fazer seu credenciamento com a LPSA, (Leme to Pontal Swimming Association)
começou-se todo uma preparação e a procura de um momento em que as condições
dos ventos, ondulações, correntezas e marés não fossem totalmente favoráveis em
um só sentido. Depois de um mês, surgiu a oportunidade, mas com grandes riscos
de ventos contras no trecho final. A melhor data favorável foi a tarde do dia 29 de outubro, às
16h16min, a nadadora Catarina Porfírio caiu na água para desafiar mais este
feito, algo que ninguém havia se quer tentado. Fazer a Travessia do Leme ao
Pontal – ida e volta. Com ritmo constante sem forçar muito no inicio, observada
pelo treinador e toda equipe de apoio, Catarina foi conquistando distância, com
o passar do tempo foram surgindo as dificuldades naturais do desafio, a mudança
de direção constante do vento trouxe agitação do mar com aumento das marolas, trazendo
mais dificuldades e esforço para superar as distâncias, como era um desafio
inédito com alta distância, Catarina precisava manter um bom ritmo mas
economizando o máximo de energia possível . Geralmente os trechos mais
complicados, como o de São Conrado e Barra da Tijuca, foram superados sem qualquer dificuldade extra
onde manteve uma freqüência de braçadas constantes em 60 braçadas por minuto.
Já com várias horas de natação a atleta começou a sentir uma dor no seu obro
direito que foi relatado para sua equipe que passarou a monitorar seu
rendimento para avaliar se influenciava no seu desempenho. A nadadora concluiu o trecho de ida em 13
horas e 18 minutos, acima do seu planejamento. Aproveitando o regulamento da
LPSA que lhe dá o direito de ficar por 10 minutos na areia do Pontal, fez a
alimentação necessária, e também uma avaliação na lesão do braço direito que já
lhe incomodava bastante, mesmo assim resolveu retornar para a água com o objetivo de iniciar seu
trecho de retorno ao Leme.
A cada braçada as dores no ombro direito foram aumentando e
o foco não era mais a distância e sim quanto tempo suportaria aquele desgaste,
neste momento além das dores, Catarina enfrentava corrente contra e as
ondulações sudeste, exigindo uma força maior para manter o ritmo de braçadas. Com
mais de 14 horas de travessia, sua velocidade caiu muito, próximo de 1,5km/h ,
mas a nadadora seguia lutando muito para superar todas as adversidades.
Neste momento sua equipe fazia de tudo
para motivar e orientar a atleta. A
tripulação do barco escolta “Boa Sorte”, do comandante Max Paim Viglio,
procurava encontrar a trajetória que fosse mais favorável para a natação da atleta.
Porém, depois de três horas e com 17 horas de desafio, a nadadora Catarina
Porfírio decidiu abandonar a travessia Leme ao Pontal (ida e volta) pelas
fortes dores no seu ombro direito.
Ao sair da água, Catarina Porfírio demonstrou muita tranquilidade e consciência das dificuldades
deste desafio ida e volta, sua equipe deu todo apoio, parabenizou e reconheceu o esforço e grande feito
realizado. A conclusão da sua segunda
Travessia do Leme ao Pontal (trecho de ida), deu a Catarina Porfírio, o título
de a RAINHA LPSA SOLO e seu nado foi reconhecido pela Associação como o NADO
LPSA ENDURANCE que pertencia ao da travessia do nadador Edilson Bento realizada
em 20 de setembro de 2018. De volta para casa Catarina foi recebida com muita
emoção e comemoração pelos amigos e familiares pelo grande feito realizado.
Agora e gozar do merecido descanso para voltar a sonhar com novos desafios.