Como escolher seu curso de Ensino
Médio?
Quem já passou pela escola, e aqueles que estão estudando, já
sabem. Depois do Ensino Fundamental (antigo 1º Grau) e antes da Faculdade
(Universidade ou Ensino Superior) tem um curso chamado Ensino Médio (antigo 2º
Grau). Desse modo podemos dizer que o Ensino Médio é uma etapa escolar
estratégica (entre o Fundamental e o Superior) na qual tomamos
importantesdecisões pessoais e profissionais. Portanto refletir sobre ele é importante
para todos: estudantes, pais e educadores.
O atual Ensino Médio já teve outros nomes ao longo da
história brasileira. Já se chamou 2º Grau (1971 a 1996) e Colegial (1550 a
1971). O nome atual de Ensino Médio data de 1996 e é uma exclusividade brasileira.
Contudo, foi apenas a partir de 2009 que ele se tornou parte da Escolaridade
Básica Obrigatória para todos os brasileiros, inclusive, para aqueles que não
pretendem fazer uma Faculdade (ou Ensino Superior).
O Ensino Médio também já mudou de formato e de lugar na
Estrutura Educacional Escolar Brasileira. Antes de 1931 ele não era obrigatório
no Brasil para o ingresso nas Faculdades da época (ou Academias). Os Colégios e
o curso Colegial já existiam, mas não era obrigatória a frequência nestas instituições.
Até esta épocahavia um outro caminho que se chamava Exames Parcelados que eram
um conjunto de provas ministradas pelas próprias Faculdades. Cada Parcelado
dava direito a um certificado de aprovação. Assim que o estudante obtivesse
todos os certificadosnecessários poderia se matricular na Faculdade,
independentemente de estar cursando, ou não, o Colegial.
Desse modo, assim que aprovado nos Parcelados a maioria dos
estudantes abandonava o Colegial. Nesta época não se valorizava a socialização,
a convivência social dos adolescentes e jovens para além da famíliano curso
Colegial, mas apenas o ingresso no Ensino Superior. Por esse motivo até a
década de 1930 existiam poucos colégios no Brasil, inclusive, havia Estados que
não possuía tais instituições.
Até 1971, o que hoje chamamos de Ensino Médioera parte de um
curso maior chamado Ensino Secundário (duração de sete anos). O Secundário
dividia-se em dois ciclos. O primeiro chamava-se Ginasial (atual Ensino
Fundamental Anos Finais – 6º ao 9º Ano) e depois o Colegial (atual Ensino
Médio). Antes do Secundário existia o Primário (atual Ensino Fundamental Anos
Iniciais - 1º ao 5º Ano). Na passagem do Primário para o Secundário existia um
temível, e desnecessário, vestibular chamado Exame de Admissão que foi extinto
em 1971.
Portanto, até 1971 os estudantes adolescentes imediatamente
pré-universitários eram chamados de Secundaristas Colegiais (e não
Secundaristas Ginasiais). Essa é a razão pela qual a UBES (União Brasileira de
Estudantes Secundaristas – fundada em 1948) conserva até hoje esse nome; ela
representava, e até hoje do mesmo modo, os estudantes ginasiais e colegiais.
É importante informar aqui ao leitor que os nomes Ensino
Primário e Ensino Secundário são mais conhecidos internacionalmente do que as atuais
opções terminológicas brasileiras (Ensino Fundamental e Ensino Médio) eque
estas acabam causandocertas confusões e dificuldades de entendimento.
Contudo aqui há um outro ponto importantíssimo a tratar,
comentar e explicar. O Ensino Médio possui vários formatos, diferente do que
ocorre com o Ensino Fundamental que é o mesmo modelo geral para todos os
estudantes. Isso mesmo.Existe uma diversidade interna no Ensino Médio que é
fruto de sua história que remonta aos Colégios Medievais e as Escolas Técnicas
da época moderna.
Por isso muitos estudiosospreferem utilizar a expressão Nível
Médio por que esta contemplamais adequadamente a diversidade interna, as variaçõesexistentes
dentro desta etapa escolar. O Nível Médio é, portanto, um compósito de vários
tipos de escolarização de origens e épocas diferentes que convergiram ao longo
do século XX e formaram uma única etapa escolar. Essa expressão não aparece na
lei brasileira, na LDB, por exemplo. Isso, no entanto, não a torna incorreta e
nem inoportuna. O próprio MEC a utiliza no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos
(CNCT).Ao contrário, ela consegue contemplar com mais precisão a totalidade de
cursos existentesentre o Ensino Fundamental e o Ensino Superior.
Assim, no Nível Médio existem desde cursos exclusivamente
Técnicos (Formação Profissional), outros inteiramente de Formação Básica (ou
Formação Geral) e cursos Híbridos (Técnicos e Básicos) e todos eles compõem a
mesma etapa escolar. Ao todo são sete variações.
NÍVEL MÉDIO NO BRASIL
ATUAL - VARIAÇÕES
|
Nº
|
Sigla
|
Curso (Nome)
|
Caracterização (formação ofertada)
|
Público
|
Instituições de Realização
|
Tipo
|
Quant. de Matric.
|
01
|
EM
|
Ensino Médio Regular
|
Formação Básica
|
Adolescentes
|
Escola Única
|
FB
|
Matrícula Única
|
02
|
EM - EJA
|
Ensino Médio - EJA
|
Formação Básica
|
Adultos
|
Escola Única
|
FB
|
Matrícula Única
|
03
|
TC - EM
|
Técnico Concomitante - EM
|
Formação Básica e Formação
Profissional
|
Adolescentes
|
Escola Única
Ou Duas Escolas
|
Híb
|
Duas Matrículas
|
04
|
TC - EJA
|
Técnico Concomitante - EJA
|
Formação Básica e Formação Profissional
|
Adultos
|
Escola Única
Ou Duas Escolas
|
Híb
|
Duas Matrículas
|
05
|
EMI
|
Ensino Médio Integrado
|
Formação Básica e Formação
Profissional
|
Adolescentes
|
Escola Única
|
Híb
|
Matrícula Única
|
06
|
EMI - EJA
|
Ensino Médio Integrado - EJA
|
Formação Básica e Formação
Profissional
|
Adultos
|
Escola Única
|
Híb
|
Matrícula Única
|
07
|
TS
|
Técnico Subsequente ou Pós-Médio
|
Formação Profissional
|
Adultos
|
Escola Única
|
FP
|
Matrícula Única
|
SIGLAS:
TC – Técnico Concomitante
– quando os estudantes fazem dois cursos de Nível Médio ao mesmo tempo, com
matrículas diferentes, podendo ser na mesma escola (concomitância interna)ou
escolas distintas (concomitância externa).
EJA –
Educação de Jovens e Adultos – para as pessoas que
não completaram, abandoaram ou não tiveram acesso à educação formal na idade
apropriada. Antigo Ensino Supletivo.
FB – Formação Básica.
FP – Formação Profissional.
Híb – Híbrido ou misto (Formação Básica e Formação
Profissional no mesmo curso).
|
Um esclarecimento importante para o leitor é que raramente
uma única escola consegue ofertar todas essas sete opções. Inclusive muitos
munícipios brasileiros não dispõem de todas essas variações. Mas como toda
escolha acertada pressupõe a reflexão sobre a totalidade, então fica aqui
registrado o Nível Médio brasileiro na sua completude na atualidade.
Portanto, a escolha do curso de Nível Médio requer várias
reflexões. A primeiraé saber se já é hora de se iniciar a profissionalização e
caso afirmativo qual curso Técnico escolher e qual modelo adotar (Concomitante,
Integrado ou Subsequente). Por isso alguns estudiosos já estão postulando
Orientação Profissional para o Nível Médio ainda no Ensino Fundamental.
Segundo, todos precisam entender que o Nível Médio tem cinco funções que não
podem ser descuidadas nem por pais, educadores e estudantes. São elas:
Formativa (Preparação do adolescente para a Vida e Cidadania), Profissional
(preparação e/ou habilitação para o Trabalho), Propedêutica (preparação para continuidade
dos Estudos), Social (cidadãos valorosos para a sociedade) e Cultural
(continuidade da cultura humana).
O Nível Médio não tem uma única função, um único objetivo, e
sim vários, o que aliás também ocorre com as demais etapas escolares. O
tradicional debate sobre dualidade nesta etapa escolar (escola técnica para
pobres e escola preparatória para o Ensino Superior para ricos) transformou-se
numa armadilha conceitual paralisante para muitos que precisa ser superada.
A chamada crise de identidade do Nível Médio é outro
debate-armadilha que será superado quando entender-se que ele responde a vários
objetivos e não a um só. E temos que trabalhar para isso. Pelos adolescentes,
pelas famílias, pela sociedade, pela Nação, pela Ciência e pela Cultura Humana.
Prof. Dr. Luciano Marcos Curi
- IFTM – Câmpus Uberaba – Contato: lucianocuri@iftm.edu.br