*por Sérgio Marchetti Enfim, o ano de 2022 chegou e, ainda que tantos fatos e factoides nos levem a desacreditar em uma retomada mais abrangente, estou confiante de que a escuridão não haverá de perdurar. Vejo um raio de sol insistente em nos emprestar luz para um novo dia. E, estratégica e psicologicamente, janeiro é … |
*por Sérgio Marchetti
Enfim, o ano de 2022 chegou e, ainda que tantos fatos e factoides nos levem a desacreditar em uma retomada mais abrangente, estou confiante de que a escuridão não haverá de perdurar. Vejo um raio de sol insistente em nos emprestar luz para um novo dia. E, estratégica e psicologicamente, janeiro é o mês mais apropriado para recomeçar, planejar e renovar.
Em mensagens nos cartões de Natal e Ano Novo observei nos desejos externados que ficou explícita a vontade de ver as pessoas se abraçarem sem medo e se libertarem da corrente invisível que nos prende há tanto tempo. Estivemos condenados à solidão e muitos cidadãos, cujas identidades não carregam os perfis de resiliência, se perderam em sua misantropia, promovida por grande parte da mídia. E não há como negar a ruptura que vivemos e que, impedidos de trabalhar, nos mergulhou nas trevas. E, apesar da sociedade ter evoluído para um cenário de idosos solitários, o estágio que nos impuseram não surtiu efeitos positivos. Apenas confirmaram que o homem é um animal gregário.
Mergulhamos em uma obra cinematográfica ou numa série (já que estão em moda) baseada em fatos, que encenava uma tragédia com progressivo número de vítimas de um vírus que, como um tufão, carregou pessoas queridas para longe de nós.
Peço licença aos meus leitores para estabelecer um paralelo da doença com o filme, baseado na obra de José Saramago, “Ensaio sobre a cegueira”. E, para quem não conhece, o autor descreve uma cegueira coletiva, e, bem rapidamente, todos vão sendo acometidos por ela. Somente uma mulher podia ver, mas manteve isso em segredo.
Na minha maneira de analisar e entender, Saramago, propositalmente, nos faz examinar as consequências de uma doença pandêmica e passa, sem nenhuma cerimônia, uma imagem crítica sobre as reações da sociedade, dos órgãos responsáveis e das atitudes cruéis, egoístas e hipócritas.
Continuando a narrativa, a cegueira coletiva era iminente e, depois de estabelecida, viria o caos completo. As autoridades enviaram os cegos para um manicômio para que ficassem isolados dos demais cidadãos. Desavenças, disputas, formação de grupos foram observadas e destacadas fortemente. Jogo de interesses, favoritismos e tudo de mais sórdido seriam, como sempre, utilizados pelos oportunistas para atingirem seus objetivos escusos.
Há muita coisa em comum com a nossa atual doença? Estou convicto que sim. E vale pela reflexão.
Em 2022, ainda teremos cegueiras, escuridão, apagões, doenças e a impossibilidade de testemunharmos uma recuperação milagrosa. Mas quero crer que, se mudarmos nossas atitudes e tivermos mais compaixão, amor e união, certamente iremos escrever um enredo com mais luzes do que sombras, e, com boa vontade, poderemos contar com a possibilidade de acendermos uma vela para iluminar nossos caminhos e apaziguar as aflições de nossas almas.
*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.