O cantor e compositor Gilberto Gil lançou em 1972, na plenitude da Ditadura Militar, a música “Expresso 2222“ trazendo uma visão futurista em relação ao ano 2000, ao qual chegaríamos com a alta velocidade de um trem (de ferro) expresso.
"Começou a circular o Expresso 2222 Da Central do Brasil Que parte direto de Bonsucesso Pra depois do ano 2000 Dizem que tem muita gente de agora Se adiantando, partindo pra lá Pra 2001 e 2 e tempo afora Até onde essa estrada do tempo vai dar Do tempo vai dar... Segundo quem já andou no Expresso Lá pelo ano 2000 fica a tal Estação final do percurso-vida Na terra-mãe concebida De vento, de fogo, de água e sal..."
Enquanto a música está completando 50 anos agora, o cantor à época completava 30 anos e deve chegar aos 80 no próximo 26 de junho. Ele nasceu em 1942, mesmo ano em que nasceram os também cantores e compositores Caetano Veloso (07/08) e Milton Nascimento (26/10).
É interessante lembrar o que se dizia em relação as expectativas em torno do emblemático ano 2000, que chegou 28 anos depois sem trazer o fim do mundo. O “Bug do Milênio” seria marcado pelo não funcionamento dos sistemas computadorizados, por não conseguirem fazer a mudança do número do ano de 1999 para 2000. Alguns imaginavam que os programas mudariam apenas os dois algarismos finais, de 99 para 00, confundindo o ano 2000 com o ano 1900.
Esperava-se também a interrupção do funcionamento das usinas geradoras de energia elétrica em suas várias modalidades, a queda de aviões em função do colapso do sistema de navegação aérea e a explosão dos mísseis nucleares em seus locais de instalação. Isso para citar apenas alguns exemplos de catástrofes que ocorreriam.
Agora, proponho outro exercício de futurologia. Faltando 28 anos para chegada de 2050, o que podemos esperar para esse novo marcador cronológico do futuro? Afinal de contas estamos caminhando para lá em meio a grandes e velozes transformações no modo de se viver.
Como estará a Terra se as metas do Acordo do Clima não forem atingidas? Ou será que ainda estaremos lutando e reivindicando para frear o aquecimento global? Como estará o desmatamento das florestas, a começar pela Amazônica, os incêndios no campo, o uso dos combustíveis fósseis, dos recursos hídricos e o tratamento de resíduos? E a geopolítica no Brasil e no mundo? As riquezas já serão distribuídas com equidade, ou estarão mais concentradas ainda? Enfim, não dá para deixar de pensar nesse futuro, que não está tão longe quanto parece, e a cada dia que passa fica mais próximo. Será?
Quais outros cenários podemos projetar no nível macro e no microcosmo da nossa cultura numa vida em sociedade a começar pela moradia? Fico pensando se em 2050 a população brasileira será mesmo de 233 milhões de pessoas, conforme as projeções do IBGE e IPEA.
Como estará o mercado de trabalho com a suposição de uma jornada semanal de 30 a 35 horas em tempos tão digitais? Estaremos convivendo, mais uma vez, com inflação alta e um ciclo de baixíssimo crescimento econômico? Imagino que questões estarão sendo discutidas sobre a longevidade, a saúde e um vírus que poderá estar ameaçadoramente em evidência. Enfim, vou parar por aqui com essas mínimas preocupações e perguntas que o futuro nos enseja. Planejar é pensar antes.