Ana
Regina Caminha Braga, psicopedagoga especialista em Gestão Escolar e
Educação Inclusiva , fala sobre indícios físicos e emocionais
manifestados em casos de maus tratos
CURITIBA, 15/04/2021 – Os
avanços das investigações sobre o caso Henry Borel têm chocado o Brasil
com evidências impactantes que indicam que o menino foi assassinado a
golpes violentos no interior da residência onde morava com a mãe e o
padrasto, principais suspeitos do crime. Morto no último dia 08 de março
aos 04 anos, Henry já vinha sofrendo uma série de abusos físicos e
emocionais apontados pelas apurações das autoridades atuantes no caso. O
contexto de violência nessa situação traz à tona uma discussão que
precisa ser abordada de forma categórica pela sociedade: como os
professores e adultos que convivem com crianças podem identificar
indícios de abuso?
“Todo
episódio ou circunstância de maus tratos causa efeitos comportamentais.
Nós adultos, como únicos elementos capazes de livrar a criança deste
tipo de situação precisamos estar atentos as alterações de conduta em
todos os ambientes sociais”, aponta a psicopedagoga Ana Regina Caminha
Braga, especialista em Gestão Escolar e Educação Inclusiva. A condição
de abuso causa medo e insegurança na criança gerando dificuldade em
falar sobre o assunto. Portanto, em geral, elas acabam manifestando de
maneira implícita. ”Nesses contextos, o mais importante é observar e
conhecer muito bem a criança pelo qual se é responsável. É necessário
perceber, por exemplo, se repentinamente ela começa apresentar uma
agressividade ou sensibilidade fora do normal, se a criança é agitada e
passou a ficar muito silenciosa e, até mesmo, se ela apresentou queda no
desempenho escolar. Sempre há indicativos de que há algo errado”,
alerta a especialista.
De
acordo com a psicopedagoga, os sinais mais comuns são: falta de
apetite; agressividade; choros fora do normal; não querer ficar sozinho;
no caso de crianças maiores, voltar a fazer xixi na cama ou as
necessidades nas roupas; pesadelos; passar a roer unhas; apatia; e
sintomas físicos frequentes ligados a stress e ansiedade, entre eles
diarreia, dor de estômago, tontura, náusea, vômito, taquicardia,
alergias e dermatites. Além disso, é imprescindível ouvir, respeitar e
investigar as vontades ou recusas da criança. “É preciso estar atento se
a criança repete muito que não quer ir à escola, ou a casa de alguém,
ou estar em determinado lugar. Se não gosta de estar perto de certo
adulto, se desvia o olhar dessa pessoa ou se passa a mentir para evitar
ir a lugares ou conviver com a pessoa. Crianças são imaturas e têm total
confiança nos adultos. Ela busca acolhimento no adulto com o qual se
sente segura, e se isso não é ouvido, vai demostrar de outras formas.
Crianças replicam exemplos e sentimentos que vivenciam. Se ela passa a
morder e beliscar os colegas na escola, pode estar acontecendo algo”,
explica.
“Birra” ou socorro?
Há
comportamentos e alterações na conduta infantil que muitas vezes são
encarados como “birra” e prontamente repreendidos. Mas como diferenciar a
birra de um pedido de socorro inconsciente por parte da criança? Para
Ana Regina Caminha Braga, a identificação parte da observação e diálogo.
“A birra é uma explosão de sentimentos. Mesmo que a motivação seja
banal, é uma forma da criança expressar frustração e descontentamento.
Ela usa esse recurso para mostrar que está emocionalmente abalada. A
questão aqui é o responsável observar se a ‘birra’ está muito fora do
comum ou aparecendo de maneira frequente. Se isso acontecer, é
importante conversar com a criança e criar uma abertura para ela contar
tudo o que está sentindo”, diz.
Outra atitude bem importante é não duvidar dos sentimentos da criança, do que ela fala ou demonstra. “Precisamos deixar o termo ‘geração mimimi’ de lado. É muito preocupante ver pais e responsáveis dizendo que não se pode falar mais nada e denominando determinadas reações e comportamentos infantis como bobagens, sendo que muitas vezes pode ser um pedido de ajuda que está sendo negligenciado por quem deveria promover a proteção dessa criança”, completa a especialista.
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