O dia em que a lua engoliu o sol e os Soviéticos montaram base de
observação científica em Araxá em plena Guerra Fria
Reportagem Especial
Por Armindo Maia
Essa pequena cidade do interior das Minas Gerais, de clima
agradável, do Grande Hotel do Barreiro, das águas milagrosas e da lendária Dona
Beja, aparentemente poderia ser apenas
mais um ponto turístico nesse Brasil
continental de belezas naturais e de
personagens interessantes. Entretanto, o município emancipado há 150 anos, pacato,
tranquilo e encravado nas montanhas das
Alterosas, oferta muito mais que lendas,
mitos e belezas naturais. Araxá guarda histórias fascinantes, segredos,
riquezas especiais, únicos e estratégicos para o planeta. Um exemplo, é a soberania de 75% das reservas mundiais do nióbio. O metal raro no mundo, mas abundante no Brasil,
considerado fundamental para a indústria de alta tecnologia e cuja demanda tem
aumentado nos últimos anos. No cenário político nacional, desde a inauguração
do suntuoso e sedutor Complexo Termal e Hoteleiro do Barreiro, há mais de sete
décadas, apenas o ex- presidente da república
Fernando Henrique Cardoso, não se hospedou no Grande Hotel de Araxá. O primeiro mandatário
nacional a ocupar a suíte presidencial com mais de 200 metros quadrados foi
Getúlio Vargas. O Grande Hotel também foi palco de importantes encontros de
chefes de Estados e em seus salões no estilo neo clássico, muitas decisões foram tomadas no
setor da política e economia Brasileiras. Mas entre tantos fatos e
acontecimentos que marcaram a história de Araxá, muitos ainda são mistérios ou
ainda não foram revelados. Nesta edição vamos revelar detalhes e segredos de Araxá nos tempos das ‘Guerra Fria’. É importante relembrar que a
‘Guerra Fria’ teve seu
início logo após a Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União
Soviética (1991) é a designação atribuída ao período histórico de
disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União
Soviética, disputando a hegemonia política, econômica e militar no mundo. A
origem do nome se deu porque não houve
uma guerra direta entre as superpotências, dada a inviabilidade da vitória em
uma batalha nuclear. E foi por causa de uma escuridão provocada em várias
cidade de Minas Gerais, no dia 20 de maio de 1947, por um eclipse total do sol que os temidos e
enigmáticos espiões e cientistas russos aportaram na pacata cidade de Araxá sem
barulho e de forma secreta para montar uma base de observações e outras ações
sigilosas. Por causa da localização geográfica privilegiada
cientistas de diversos países do mundo se instalaram na região do Triângulo
Mineiro, mas os soviéticos optaram por se hospedar no Grande Hotel de Araxá.
Tal
fenômeno pôde ser observado, em sua totalidade, numa faixa que partiu da
América do Sul, cruzou o Oceano Atlântico e terminou a leste do continente
africano. Por este motivo, o Brasil recebeu astrônomos e físicos de
observatórios e instituições de pesquisa de países como Finlândia, França e
Argentina. Mas as duas maiores expedições foram a dos Estados Unidos e a da
antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Os planos de
observação envolviam investigações da camada atmosférica que reflete os sinais
de rádio, testes da Teoria da Relatividade Geral, fotografias das camadas do
sol e medição da distância entre os continentes sul-americano e o africano. Os soviéticos
escolheram a cidade de Araxá, no sudoeste de Minas Gerais, para a instalação de
sua base de observações. Já os americanos optaram por uma cidade mineira mais
ao norte, chamada Bocaiúva. De acordo com reportagem do Jornal Folha da Noite
do Rio de Janeiro, edição de 20 de maio de 1947, ‘a fase total do eclipse, que
durou, precisamente, 3 minutos e 48 segundos. O eclipse total começou às 9
horas, 34 minutos e 8 segundos. O globo solar ficou inteiramente coberto,
observando-se sobre o firmamento um resplendor impressionante, como se houvesse
um grande luar sobre o horizonte visual. A temperatura no primeiro minuto do
eclipse baixou a 19 graus centigrados. Ás 9 horas e 38 minutos começou a
clarear rapidamente, notando-se então os contornos dos corpos sobre o solo, à
medida que a lua foi baixando. Os astrônomos seguiam o fenômeno imóveis nos seus postos de observações. Na
cidade de Bocaiúva ( MG), cientistas norte-americanos e o embaixador William
Pawley concederam entrevista coletiva à imprensa brasileira e estrangeira,
elogiando os trabalhos de observação das fases eclípticas. Durante a fase máxima
do eclipse solar, a temperatura em Araxá
desceu a zero grau centígrado. Passados 69 anos do concorrido e disputado ‘
Eclipse Total do Sol de 1947’, ainda se comenta entre quatro paredes e a boca
miúda, que a preferência dos
“russos”, pela terra dos Arachás, ia
além do conforto que teriam no luxuoso hotel do Barreiro. O boato era de que
eles, na verdade, pretendiam comprovar a existência de jazidas de urânio no
subsolo de Araxá. Urânio era o metal usado na fabricação da bomba atômica, arma
que há dois anos havia arrasado as localidades japonesas de Iroshima e
Nagazaki. A "guerra quente" acabara, mas a “guerra fria” URSS versus
USA estava apenas começando! Histórias e fatos que só acontecem com
Araxá...
( conteúdo publicado na
Revista Araxá, edição 02)
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