Inovação
no desenvolvimento urbano e aplicação tecnológica na infraestrutura são
alguns pontos importantes para classificar uma cidade como inteligente.
Mas é preciso mais do que isso para alcançar um patamar internacional
de referência no setor de planejamento urbano. E foi isso que aconteceu
com Curitiba: a capital foi eleita, pela terceira vez consecutiva, uma
das 21 comunidades mais inteligentes do mundo, segundo o Intelligent Community Forum (ICF).
O ranking, divulgado recentemente, leva em consideração fatores como
governança para prosperidade econômica, saúde social e riqueza cultural.
A capital paranaense é a única da América Latina na listagem, e aparece
ao lado de cidades como Belfast (Irlanda do Norte), Filadélfia (EUA) e
Moscou (Rússia).
Mas
o que faz a capital paranaense integrar o Smart21 Intelligent
Communities de 2021? Muito antes do surgimento das chamadas “smart
cities”, Curitiba já estava rumando no caminho da inovação, exportando
conceitos de urbanismo para o mundo. “Em um determinado momento da
história da cidade, houve uma lacuna neste legado, mas nos últimos anos
Curitiba resgatou a disposição para evoluir neste sentido”, explica
Paulo Hansted, CEO da startup MCities, especializada em comunicação
inovadora e experiências urbanas.
De
acordo com o especialista, a disposição geográfica, populacional,
mercadológica e crítica de Curitiba criam um ambiente historicamente
perfeito para testar e difundir ideias inovadoras. “A cidade conta com
um ecossistema muito propício para testar e validar soluções antes de
buscar a escalabilidade de qualquer proposta. Entendo que as cidades
adjacentes deveriam aproveitar esta disposição de Curitiba, como uma
mola propulsora para suas evoluções”, diz Hansted.
Segundo
Cris Alessi, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e
Inovação, a inclusão da capital no ranking das 21 comunidades mais
inteligentes do mundo, pelo terceiro ano consecutivo, reflete a
persistência da cidade, mesmo durante a pandemia, em construir uma
economia e estrutura sociais sustentáveis e eficientes para as atuais e
novas gerações. "A Prefeitura e todo o ecossistema de inovação de
Curitiba, que integram o Vale do Pinhão, estão trabalhando juntos e
investindo para garantir que as próximas gerações prosperem”, reforça
ela.
Cidades inteligentes
Com
a experiência de quem já passou por mais de 17 países, estudando os
movimentos desta indústria, Paulo define as cidades inteligentes como
aquelas que destacam principalmente a aplicação da tecnologia na
infraestrutura das cidades, para a melhoria da qualidade de vida nos
grandes centros urbanos. “Em um universo perfeito, o elemento humano
ganha mais protagonismo, sendo o centro da causa e não apenas o
beneficiário. Uma cidade inteligente reflete soluções que a tornam mais
humana, solidária e democrática”, explica.
Próximos passos para Curitiba
Segundo
Hansted, Curitiba é um polo de ecossistemas pulsantes de empresas de
inovação, um berço de fintechs, com destaque para empresas como Ebanx e
Juno, foodtechs e muitas outras, e uma maior integração destes setores
poderia alavancar este crescimento. “A meu ver, uma nova mudança de
patamar, consolidando mundialmente a cidade, ocorrerá quando houver uma
integração destes clusters, quando todos trabalharem ‘juntos e
misturados’, porque a alquimia de possibilidades que pode surgir disto é
algo muito interessante e único no país”, diz.
Para
que Curitiba siga trilhando o caminho da inovação, conta-se com as
políticas do município, incentivando e criando oportunidades para mentes
inovadoras, somadas ao espírito empreendedor de alguns pioneiros desta
nova geração. “Importante sinalizar que ainda há muito a evoluir, muito
mesmo. Tudo isto é muito recente e cercado de um ambiente econômico com
condições muito distantes e diferentes do que cidades que estão à frente
da nossa. Isto só engrandece o mérito da conquista”, complementa o
especialista.
Ações
desenvolvidas em meio a pandemia, buscando minimizar o impacto
econômico e social, podem ter consequências futuras positivas. Entre
elas, a oferta de capacitações gratuitas do Sebrae/PR para quem quer
empreender ou modernizar o negócio em áreas como varejo e turismo, e
investimentos de R$ 2 bilhões em obras de infraestrutura no município.
Cris cita, por exemplo, o Plano de Retomada Econômica de Curitiba,
lançado no segundo semestre de 2020, que comtempla ações que permitem à
capital manter a economia e estrutura sociais ativas. "O Fundo de Aval
da Prefeitura, por exemplo, já viabilizou R$ 6 milhões, entre outubro de
2020 e abril de 2021, em empréstimos para pequenos empreendedores de
Curitiba, que não teriam acesso a financiamentos sem a garantia dada
pelo município", observa ela.
Inovação no Brasil
De acordo com Paulo Hansted, em um país com tamanho continental, como o Brasil, o processo de inovação acaba se tornando muito heterogêneo. “Cada região possui suas características culturais, sociais e econômicas completamente diferentes. Com problemas, desafios e necessidades tão singulares, torna-se complexa a forma de desenvolvimento nacional linear. Sendo assim, as soluções customizadas para cada região acabam sendo o melhor caminho a seguir”, completa.
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