Estudo apresentado por um grupo de pesquisadores americanos para a Nejm
Catalyst em março deste ano demonstrou que o risco de óbito de
pacientes com deficiência intelectual ao contraírem Covid-19 chega a ser
três vezes maior do que em uma pessoa sem deficiência. A
pesquisa analisou 64.414.495 pacientes, dos quais 127.003 eram pacientes
com deficiência intelectual e 64.287.492 eram pacientes sem
deficiência.
Do
número total, 558.672 (0,87%) apresentaram diagnóstico de Covid-19. Os
pacientes com deficiência intelectual eram mais propensos a serem
admitidos no hospital se diagnosticados (63,1% vs. 29,1%). Os pacientes
com deficiência intelectual que foram diagnosticados com Covid-19
permaneceram mais tempo na UTI (14,5% vs. 6,3%), assim como corriam
maiores riscos de óbito (8,2% vs 3,8%).
O
estudo também demonstrou que pacientes com deficiência intelectual
possuem riscos mais altos em relação a todas as outras comorbidades,
até mesmo câncer. A pesquisa foi realizada entre janeiro de 2019 e
novembro de 2020 com 547 organizações de saúde nos Estados Unidos.
No Brasil, mais especificamente no Sistema Único de Saúde (SUS), que
segue com a capacidade de atendimento comprometida em razão da
elevação diária no número de novos casos e da suspensão de atividades
presenciais em centros de referência dedicados às pessoas com
deficiência intelectual, esse quadro tende a ser semelhante ao
registrado nos Estados Unidos, segundo defendem especialistas.
De
acordo com o doutor Caio Bruzaca, médico geneticista no Ambulatório de
Diagnóstico no Instituto Jô Clemente (antiga Apae de São Paulo),
a gravidade na infecção e risco de óbito em pessoas com deficiência
intelectual pode ser explicada por dois fatores. "Primeiro, as
pessoas com deficiência intelectual possuem mais dificuldade em usar a
máscara corretamente, lavar as mãos ou usar álcool em gel e
frequentemente também levam objetos à boca, como brinquedos, o que pode,
inclusive, propagar o vírus, então estão mais propensas a
infecção. O outro ponto é que esse grupo é frequentemente acometido por
comorbidades, incluindo hipertensão, diabetes, cardiopatias
congênitas e outras malformações congênitas, o que as insere em um grupo
de risco por conta de doenças crônicas ou outras comorbidades
relevantes", argumenta o médico.
Por isso, diversos médicos e especialistas que lidam diariamente com
pessoas com deficiência intelectual estão protagonizando pedidos
para que essa população seja incluída nos grupos prioritários de
vacinação contra a Covid-19. "Além dos riscos da doença, o
isolamento por tempo indeterminado é preocupante, pois são pessoas com
maiores chances de desenvolver quadros depressivos quando se sentem
isoladas, aumentando sua vulnerabilidade aos sintomas da Covid-19 caso
sejam contaminadas. A vacinação proporciona maior segurança",
explica.
Na
última terça-feira, 21, o Estado de São Paulo anunciou os novos grupos
prioritários de vacinação, agora que as faixas de idosos já
estão terminando. Nos grupos prioritários com comorbidades, pessoas com
síndrome de Down foram incluídas no cronograma, entretanto, a
síndrome de Down não é uma deficiência intelectual, como alguns
associam, logo, diversas pessoas com deficiência intelectual ainda não
foram incluídas no cronograma e seguem em isolamento e sem acesso a
diversas atividades que melhoram sua qualidade de vida e até prolongam
seu tempo de vida. Alguns estados estão incluindo essa população, mas
ainda não há um consenso em nível federal e é isso que preocupa
os especialistas.
"É indicado que essas pessoas recebam ainda mais cuidado nesta fase de
pandemia, com cuidadores ou familiares atentos aos cuidados que eles
podem deixar de fazer, como lavar a mão corretamente, usar álcool em gel
e máscara de forma adequada. Enquanto não temos a vacina para
esse grupo, o cuidado precisa ser redobrado", conclui Bruzaca.
No
geral, as pessoas com deficiência intelectual seguem apenas inseridas na
divisão por idade, com exceção das que vivem em centros de
referência específicos. Há projetos na Câmara dos Deputados que visam
incluir essa parcela da população dos grupos prioritários, mas
ainda não há nenhuma contrapartida do Ministério da Saúde para isso.
Sobre o Instituto Jô Clemente
O Instituto Jô Clemente é
uma Organização da Sociedade Civil sem fins
lucrativos que há 60 anos previne e promove a saúde das pessoas com
deficiência intelectual, além de apoiar a sua inclusão social
e a defesa de seus direitos, produzindo e disseminando
conhecimento. Atua desde o nascimento ao processo de envelhecimento,
propiciando o desenvolvimento de habilidades e potencialidades que
favoreçam a escolaridade e o emprego apoiado, além de oferecer
assessoria jurídica às famílias acerca dos direitos das pessoas com
deficiência intelectual. Pioneiro no Teste
do Pezinho no Brasil e credenciado pelo Ministério da Saúde como Serviço de Referência em Triagem Neonatal,
o Laboratório do Instituto Jô Clemente é o maior do Brasil em número de exames realizados e
oferece, atualmente, o Teste do Pezinho Ampliado na rede pública do município de São Paulo, contemplando o
diagnóstico preoce de até 50 doenças, incluindo dezenas de condições raras. Por meio do CEPI - Centro de Ensino, Pesquisa
e Inovação do Instituto Jô Clemente, a Organização gera e dissemina conhecimento científico sobre
deficiência intelectual com pesquisas e cursos de formação. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11)
5080-7000 ou pelo site: http://www.ijc.org.br
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