Segundo
dados do último censo escolar, produzidos pelo INEP,
desde março de 2020, cerca de 48 milhões de estudantes deixaram de
frequentar as atividades presenciais nas mais de 180 mil escolas de
ensino básico espalhadas pelo Brasil como forma de prevenção à
propagação do coronavírus. Muitos municípios não possuem estrutura
de tecnologia para oferta de ensino remoto e nem todos os professores
têm a formação adequada para dar aulas virtuais.
Buscando chamar a atenção para essa realidade, a ONG Visão Mundial, organização humanitária de proteção à infância, em parceria com a Campanha Nacional Pela Educação, lança a
pesquisa A Voz dos Alunos,
um levantamento realizado entre março e abril deste
ano, que compreende a escuta de crianças de 7 a 11 anos, de comunidades
vulneráveis e matriculadas na rede pública de ensino, em nove
estados e 15 municípios. As cidades pesquisadas foram Anori (AM), Boa
Vista (RR), Camaçari (BA), Caraúbas (RN), Contagem (MG), Fortaleza
(CE), Jaboatão dos Guararapes (PE), Manacapuru (AM), Manaus (AM), Nova
Iguaçu (RJ), Olinda (PE), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ),
Salvador (BA) e São Luís (MA).
"Diante de toda essa crise imposta pela pandemia,
as crianças ainda não haviam sido ouvidas, apesar de serem
prejudicadas de distintas formas. A participação dessas crianças é de
suma importância no processo de retomada das aberturas das
escolas. É preciso escutá-las e entender quais foram as ferramentas
encontradas por elas para superarem esse momento, como se sentem longe
da escola e como seu tempo é ocupado durante esse período. Escutá-las
nos dará uma dimensão sobre o impacto da pandemia e ajudará os
governos a elaborarem as estratégias necessárias para apoiá-las", ressalta o coordenador de Advocacy
da Visão Mundial, Reginaldo Silva.
A pesquisa ouviu 688 crianças e apontou que, com
relação às dificuldades enfrentadas por elas durante a pandemia,
cerca de 58% relataram que têm dificuldade de acessar à internet para
poder assistir às aulas e 34% apontam que enfrentam problemas com
relação a materiais escolares. Com relação ao retorno às aulas
presenciais, 45% das crianças declararam ter preocupações com
aspectos como contaminação pelo coronavírus e não conseguir acompanhar
os conteúdos. O ambiente destas crianças também foi aferido:
11% delas apontaram que sentiram fome muitas vezes e 8% responderam
conviver com conflitos familiares, que prejudicam os estudos, com maior
incidência desta problemática entre crianças negras.
"Que a situação das crianças que usufruem do ensino
público era ainda mais grave devido à pandemia, nós já
sabíamos. Porém, os dados mostram que é um percentual muito grande de
alunos que estão sendo vastamente prejudicados pela falta de
infraestrutura para poder estudar. O isolamento social acentuou ainda
mais a desigualdade educacional entre crianças do ensino público e
privado", explica Reginaldo.
Ida à escola
Dentre as crianças ouvidas, cerca de 60% relataram
que necessitam do apoio da escola para proteção pessoal contra
uma possível contaminação com o vírus e necessitam de materiais
escolares para uso diário. Do total, apenas 40% declararam adotar as
quatro medidas de prevenção citadas na pesquisa (aplicação de
distanciamento social, uso de máscara, utilização de álcool gel e
utilização de produtos de limpeza), com destaque para as cidades de
Fortaleza, Contagem e Manaus, onde a incidência da pandemia tem se
apresentado de maneira mais expressiva. Outras 28% declararam adotar
apenas uma das medidas de prevenção, a utilização de máscaras, com
destaque para as cidades de Caraúbas e Recife. A análise dos dados
gerais apontam o baixo acesso, por parte das famílias, a produtos de
limpeza e higiene em todas as cidades.
Educação é a resposta
A Visão Mundial acredita que, para que crianças e
adolescentes tenham chances de um futuro melhor, é necessário
investir na educação hoje, e uma parte deste investimento está também na
voz dos alunos e alunas. "Não podemos permitir que seus
direitos sigam sendo violados. Precisamos garantir que nenhuma criança
ou adolescente seja deixada para trás na busca por oportunidades
mais justas e igualitárias. É preciso criar ferramentas que deem
subsídios para que elas possam assumir protagonismo na transformação
das suas realidades e de suas comunidades. E esse processo começa
escutando cada uma delas e garantindo que as mesmas tenham acesso à
Educação de qualidade", conclui Reginaldo.
Estes e os demais dados da Pesquisa, assim como uma
análise mais aprofundada do cenário e o destaque de boas
práticas foram apresentados em uma live promovida pela Visão Mundial em
parceria com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O
evento foi transmitido na página da Visão Mundial no Youtube, com a
participação de representantes das duas organizações, além de
convidados para abordar o tema no dia 16 de julho, às 11h.
Serviço:
Lançamento Pesquisa A Voz dos Alunos
16 de julho de 2021
Youtube da Visão Mundial (https://www.youtube.com/user/visaomundial)
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