Segundo pesquisa conduzida pelo Instituto Vidas Raras, além da falta de medicamentos, pacientes sofreram com o
adiamento das cirurgias eletivas e atraso em consultas médicas
Com a crise sanitária, muitas doenças passaram a ser ainda mais
negligenciadas, seja pelo medo do paciente em sair de casa, atrasos na
distribuição gratuita de medicação, serviços públicos de saúde
sobrecarregados, dificuldade de acesso a exames de diagnóstico e a
consultas à distância, além do adiamento das cirurgias eletivas. O
cenário não foi diferente para os pacientes com Acromegalia, doença
rara causada por um tumor benigno da hipófise, glândula endócrina
localizada na parte inferior do cérebro que leva à produção em
excesso do hormônio do crescimento (GH). Esta disfunção leva ao
crescimento exacerbado de mãos, pés, queixo, língua, orelhas e nariz,
espaçamento entre os dentes e embrutecimento das feições. Os pacientes
com acromegalia podem também apresentar dores articulares e
outros problemas de saúde como diabetes, hipertensão e insuficiência
cardíaca, capazes de reduzir sua qualidade e expectativa de
vida.
Para avaliar a condição dos pacientes com Acromegalia, o Instituto Vidas
Raras fez uma enquete com 100 voluntários em sua plataforma
digital. Cerca de 51% dos pacientes confirmaram não ter acesso a
consultas virtuais, e 29% ficaram sem o medicamento em algum momento da
pandemia. Pelo menos, 33% também apontaram que estão com as consultas
regulares atrasadas, e 52% tiveram piora no quadro da doença,
sentindo com maior intensidade as consequências desta enfermidade, como
dores pelo corpo, desequilíbrio, depressão e rigidez muscular.
Ainda de acordo com 72% dos pacientes, a saúde emocional foi o que mais
impactou, seguida pela saúde física, situação financeira e
social.
Segundo a médica endocrinologista Nina Musolino, do Hospital das
Clínicas da FMUSP, como toda doença crônica, o atraso no tratamento
impacta na vida dos pacientes. "Além de dores articulares, a acromegalia
está associada a quadros de diabetes e hipertensão arterial,
comorbidades que devem ser controladas, acompanhadas por equipe médica
com regularidade, pois são causas de aumento da mortalidade de modo
geral e, em caso de infecção pós COVID-19 são fatores de risco para
gravidade da doença", esclarece.
A
Dra. Nina também ressalta que as cirurgias, sem emergência, para a
acromegalia no início da pandemia foram totalmente canceladas. Elas
voltaram a ocorrer em centros de referência, porém em número reduzido e
com protocolos de segurança para evitar a contaminação pela
Covid-19. Para os recém-diagnosticados a recomendação foi de postergar a
cirurgia e fazer o tratamento clínico inicial, mesmo em
pacientes onde a cirurgia poderia ser a primeira opção. O procedimento
cirúrgico neste período só aconteceu excepcionalmente em casos
emergências, quando o tumor leva à perda visual grave ou sangramento.
Por outro lado, a acromegalia que já é subdiagnosticada, teve um número
ainda menor de diagnósticos durante a pandemia. A queda na
procura por ajuda médica ou a dificuldade maior em conseguir
atendimento, impacta ainda mais no diagnóstico da doença e muitos
pacientes
têm sofrido em silêncio. Por ser uma doença rara e com diagnóstico
precoce dificultoso, principalmente pelos sintomas serem diversos e
de desenvolvimento lento, o paciente pode demorar entre sete e dez anos
para descobrir o que está acontecendo. Além da avaliação
clínica, o exame de detecção desta doença consiste na dosagem do GH e
IGF-1, hormônio produzido em excesso pelo organismo.
Além de cirurgias para a retirada do tumor no cérebro e radioterapia,
existem medicamentos que podem ser indicados, como o agonista
dopaminérgico que reduz o GH, prescrito para casos com pequena elevação
do GH e IGF-1 e de eficiência mais baixa; os análogos da
somastatina, que atuam de forma mais eficaz na redução da produção do GH
e mesmo do tamanho do tumor; e o antagonista do GH que, por
bloquear os receptores do hormônio do crescimento, reduzem sua ação no
organismo.
Algumas dessas medicações são fornecidas pelo SUS (como o agonista da
dopamina e os análogos da somatostatina de primeira geração). O
controle da doença pelos diversos tratamentos isolados ou associados,
permite a melhora dos sintomas e a redução da mortalidade.
Números da pesquisa do Instituto Vidas Raras:
• Para 72% dos pacientes, a saúde emocional foi o que mais impactou a vida deles, logo em seguida pela saúde física, situação
financeira e social.
• 44% dos pacientes tiveram ansiedade e depressão, sendo que 23%
desconfiam que estão com essas condições. Porém, apenas 18% procurou
ajuda médica.
• 47% não tiveram problemas de falta de medicação, mas para 29% faltaram o remédio por um determinado momento.
• 91% dos pacientes utilizam o SUS, porém 56,1% teve problemas com
documentação desatualizada devido a pandemia no momento de retirar
sua medicação.
• 50% continuam frequentando regularmente os exames de rotina, porém 33%
tem ido, mas com atrasos e 12% tiveram todas as suas consultas
desmarcadas.
• 51% não têm como realizar teleconsultas com seus médicos.
• 93% dos pacientes não tiveram mudanças no seu tratamento devido a pandemia.
• 54% pretendem tomar a vacina para a Covid-19 e 40% já tomaram.
• 52% tiveram piora durante a pandemia, sendo dores, desequilíbrio, depressão e rigidez muscular os principais sintomas.
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