sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Cerrado é o segundo bioma que mais queimou no Brasil entre 1985 e 2020

 



Iniciativa pioneira de mapeamento histórico das cicatrizes do fogo em todo o território brasileiro gera o mais abrangente banco de dados sobre área de queimadas e incêndios florestais do País, com dados inéditos - e preocupantes

Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do Brasil obtido pelo MapBiomas após analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo sobre o território nacional. A cada um desses 36 anos entre 1985 e 2020, o Brasil queimou uma área maior que a da Inglaterra: foram 150.957 km² por ano, ou 1,8% do país.

O Cerrado ocupa a vice-liderança entre os biomas que tiveram seu território queimado pelo menos uma vez no período, com 733.851 km², ou 36% de sua área, seguido pela Amazônia (690.028 km², 16,4%). O bioma mais afetado pelo fogo foi o Pantanal (57%). Ao analisar a porção do Cerrado que queimou duas vezes ou mais, esse percentual alcança 60%. A quase totalidade (87%) da área queimada no Cerrado foi em vegetação nativa.

O Tocantins foi o terceiro com maior área queimada no Brasil desde 1985. Em primeiro e segundo lugar estão o Mato Grosso e o Pará.

Para chegar a esses números, inéditos, a equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, independente do uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas para mostrar áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo.

Os dados nacionais são igualmente impressionantes. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil. Quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de vegetação nativa. 85% de toda a área queimada no país nesse período ficam no Cerrado (44%) e na Amazônia (41%).

"Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite entender seu avanço sobre o território brasileiro. Saímos de menos de 200 mil km² de área queimada em 1985 para chegar perto de 2 milhões de km² em 2020 em uma escalada constante e ininterrupta", explica Ane Alencar, Coordenadora do MapBiomas Fogo. "Outro dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não estamos falando de eventos isolados", ressalta.

Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), altas taxas de desmatamento principalmente antes de 2005 e depois de 2019 tiveram um grande impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% dos incêndios ambientais.

Os dados de áreas queimadas e incêndios florestais estão disponibilizados em mapa e estatísticas anual, mensal e acumulada em para qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma https://mapbiomas.org/, aberta a todos. Ela também inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 36 anos. A resolução é de 30 m, com indicação do tipo de cobertura e uso da terra que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com CAR.


Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org 

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