Natal, carestia e famélicos
O ano caminha para o fim, sinalizado pela chegada do Natal precedido pela preparação que o advento propõe. Nesse tempo miramos o renascimento e o fortalecimento da esperança em tempos melhores que precisam chegar. Nada é tão bom que não possa ser melhorado e nem tão ruim que não possa ser piorado.
Parto da premissa de que tudo começa com a gente e depende de nós a partir do indivíduo, da família e do coletivo social com o devido respeito às pessoas e às regras do regime democrático numa sociedade civilizada. Pensando e refletindo sobre isso acabei olhando um pouco para trás no tempo, mais precisamente para o Natal do ano passado, que já foi tão difícil. Lembrei-me das condições de contorno em relação ao enfrentamento da pandemia da Covid-19, ainda sem vacina, mas com as agora já clássicas medidas de saúde pública para conter o vírus – uso de máscara, de álcool em gel, adoção do distanciamento social, o “não” às aglomerações, o trabalho remoto, o “se possível, fique em casa”…
Agora, um ano depois, o Natal acontece sem que a pandemia tenha acabado e uma espada paira sobre nossas cabeças com a presença de mais uma variante da Covid-19, a ômicron, que continua a nos exigir cautela e manter as precauções e cuidados diante de tantas possibilidades de aglomerações nos eventos dessa época do ano. Lembremo-nos desses mesmos eventos em igual período do ano passado.
Por outro lado, por tudo que o Natal possa significar para as pessoas em diferentes aspectos, não dá para ignorar as condições políticas, econômicas e sociais que nos afetam direta e indiretamente neste Natal. Os fatos e dados escancaram o desemprego, o trabalho informal crescente, o aumento da carestia diante da alta inflação e a consequente perda de poder aquisitivo. A fome e o aumento dos famélicos mostram como se acentuam a desigualdade e a péssima distribuição de renda, que só aumentam a quantidade de pessoas na base da pirâmide social e sua distância para os poucos que estão em seu nível mais alto.
Por mais realistas e esperançosos que sejamos, fica claro que precisamos unir forças e lutar pela retomada do crescimento da economia estagnada há sete anos, por uma política energética que não se baseie no preço internacional do petróleo, no combate permanente ao desmatamento e à degradação ambiental…
Enfim, é tempo de Natal, mas não dá para ser feliz assim com tantos incômodos, preocupações, incertezas e medos, até de sair às ruas, e ainda tendo de se lembrar dos cuidados obrigatórios para manter a saúde mental. Haja resiliência, mas desistir jamais.
Quem sabe, que tal começar a imaginar os cenários para o próximo Natal no ano eleitoral de 2022? Como canta Gilberto Gil em sua música Viramundo (1967)
“Ainda viro este mundo em festa, trabalho e pão”.
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