Comum entre todos
os mineiros é ter um parente na família que se destaca pelo talento na
culinária, seja em um doce típico ou utilizando um tempero especial. Para
proteger esses sabores da tradicional cozinha mineira, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e o Instituto
Periférico, iniciaram na última sexta-feira (3/12), no Palácio da Liberdade, em
Belo Horizonte, o processo de reconhecimento da cozinha mineira como patrimônio
cultural de Minas Gerais
A expectativa é
finalizar, até o fim do próximo ano, todo o processo de registro e também o
Inventário da Cozinha Mineira, composto por um dossiê e por ações de
salvaguarda e proteção da gastronomia de Minas. Serão realizados estudos e
levantamentos de toda a cadeia produtiva e afetiva da cultura alimentar mineira
e também com relação ao conhecimento já sistematizado sobre o tema.
Além da entrega do
dossiê, o inventário prevê a entrega de publicações que ajudarão a promover a
história, a diversidade e os protagonistas dos sabores e dos saberes da comida
mineira. Dentro os materiais estão previstos videodocumentários, livretos, filmetes
promocionais, um site e um repositório digital na internet, incluindo também
ações de capacitação como seminários e oficinas virtuais, para agentes
culturais e turísticos, e palestras em escolas públicas.
Durante a
solenidade, o secretário de estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais,
Leônidas Oliveira, adiantou que enviará um ofício ao governo federal para
também pedir que a Cozinha Mineira seja registrada como patrimônio cultural
nacional. “Aos mineiros e as mineiras, estar na cozinha é o centro da nossa
casa, que é onde recebemos as pessoas, as visitas. É um lugar de afeto, de
receber, intangível, mas agora com o inventário será possível entendermos com
melhor profundidade os biomas, as regiões, os jeitos de ser e de fazer, os
sabores, os saberes, desse imenso país chamado pátria Minas”, afirmou.
O presidente do
Iepha, Felipe Pires, explicou que a partir do registro da cozinha mineira será
possível criar políticas públicas e realizar ações até como a captação de
recursos pelo ICMS Cultural. “É um trabalho multidisciplinar, que envolvem
antropólogos, sociólogos, geógrafos, economistas, historiadores e outros
especialistas, conforme demanda. Vamos registrar a cozinha mineira ainda em
2022, mas ainda não de tudo o que chamamos de Comida Mineira. Vai criar uma
série de recortes, por ingredientes e técnicas, que vão definir o que deve ser
protegido”, detalhou.
A proposta de
reconhecimento da cozinha mineira como patrimônio cultural integra o Plano
Estadual de Desenvolvimento da Cozinha Mineira, importante instrumento para a
articulação de políticas públicas e parcerias envolvendo gastronomia, cultura,
turismo e desenvolvimento econômico, lançado em fevereiro deste ano pelo
Governo de Minas. O caminho a ser trilhado segue exemplos de países como
França, México, e o conjunto de sete países europeus banhados pelo Mar
Mediterrâneo, que projetaram suas gastronomias no cenário internacional
seguindo esta trajetória.
Dossiê da Cozinha
Mineira
O dossiê será
produzido em três fases simultâneas e complementares. Dois documentos técnicos
vão fornecer subsídios para a construção da proposta de reconhecimento. O
primeiro documento apresentará a metodologia de trabalho e a fundamentação
teórica sobre o conceito de cozinha mineira, primordial para a inclusão dos
bens a serem estudados.
O segundo
apresentará a proposta e os mecanismos de participação e validação da sociedade
no processo de reconhecimento e salvaguarda da cozinha mineira. O projeto prevê
a formação de um comitê composto por pesquisadores, especialistas, grupos e
instituições setoriais da cultura alimentar, e por comunidades e/ou indivíduos
detentores de práticas e saberes ligados à cozinha.
Os estudos
conceituais e as recomendações técnicas vão orientar as pesquisas
interdisciplinares, empíricas e documentais sobre o conjunto de bens culturais
que constituem a cultura alimentar tradicional de Minas Gerais. Nesta etapa, o
inventário vai levantar e analisar os registros de bens realizados pelos
municípios do estado, promover encontros com os públicos de interesse e
produzir o mapeamento territorial e afetivo do universo que compreende as
dimensões da culinária regional.
A iniciativa tem o
patrocínio da Gerdau, da Companhia Energética de Minas
Gerais (Cemig) e da Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), por meio da Lei
de Incentivo à Cultura, do Governo Federal, e parceria da Secretaria de Estado
de Cultura e Turismo (Secult), firmada através de acordo de cooperação técnica
entre o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
(Iepha-MG) e o Instituto Periférico.
A
diretora-presidente do Instituto Periférico, Gabriela Santoro, diz que serão
realizadas duas linhas de pesquisa, a primeira de caracterização histórica e
antropológica e a segunda do levantamento imaterial de bens alimentares em
Minas. “O inventário reconhece o que já é de conhecimento tácito em Minas, da
identidade do povo mineiro, que é a cozinha. Então isso abrirá portas para
novas pesquisas, políticas públicas e outras iniciativas relacionadas”,
afirmou.
Queijos
Na solenidade,
também foi realizada a revalidação pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) dos “Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal”, como
Patrimônio Cultural do Brasil, inscrito no Livro dos Saberes do Iphan.
Além da região do
Serro, que já era registrado, foram expandidas paras as regiões do Triângulo,
Salitre, Cerrado, Vertentes, Araxá e Canastra;
O projeto “Queijo
Artesanal, saberes e sabores mineiros”, em fase final de tramitação na Lei
Federal de Incentivo à Cultura, recebeu o patrocínio da Companhia Brasileira de
Metalurgia e Mineração (CBMM), de Araxá, uma das seis regiões que serão
visitadas para o levantamento de aspectos históricos, culturais, turísticos e
técnicos sobre os modos de fazer do queijo.
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