Todos
já ouviram falar do Teste do Pezinho, mas nem todos sabem exatamente o
que é e para o que serve. Parte essencial do Programa Nacional de
Triagem Neonatal (PNTN) (1), o Teste do Pezinho é um dos primeiros
exames a que um bebê é exposto e tem uma finalidade muito nobre:
detectar um possível Erro Inato do Metabolismo (EIM) ou uma enfermidade –
muitas vezes fatal - de origem genética.
Se
realizado nas primeiras 48 horas do nascimento, a título de triagem em
todos os bebês nascidos vivos, ele permite detectar muitas doenças que
impedem o normal funcionamento das vias metabólicas, por deixarem de
metabolizar (processar) diversos aminoácidos ou ácidos graxos. Ao se
acumularem no organismo, exatamente por não terem sido processados no
momento certo, muitos destes aminoácidos (que são
as menores partículas que formam as proteínas) acabam se acumulando, e
passam a exercer um efeito neurotóxico e que pode levar a criança a ter
convulsões, retardo mental e até mesmo levar a óbito nos casos mais
severos.
Atualmente,
o Teste do Pezinho oferecido pelo SUS abrange seis enfermidades
diferentes, podendo ser também na versão “Expandida ou Ampliada”,
que chega a mais de 50 doenças, já disponível em algumas regiões (como
pelo governo do Distrito Federal, por exemplo) e na rede de Saúde
Suplementar. O fato é que o teste precoce e preciso pode de fato mudar
uma vida, ao proporcionar a chance de ter a informação
que permitirá o acesso à terapia medicamentosa ou mesmo apenas
nutricional.
Atualmente,
praticamente todas as aminoacidopatias podem ser detectadas
precocemente por estes testes. No caso do SUS, a única que consta do
PNTN
é a fenilcetonúria, por ser mais prevalente em nosso país (na ordem de
1:15.000, aproximadamente), e refere-se a uma incapacidade de
metabolizar a fenilalanina, aminoácido essencial, que passa a se
acumular, impedindo inclusive a sua transformação em tirosina,
também necessária para o desenvolvimento humano. O excesso da
fenilalanina e a falta da tirosina no organismo provocarão, ao longo do
tempo, dificuldades para comunicação e desenvolvimento, agressividade
crescente e retardo mental irreversível.
Outras
aminoacidopatias podem também ser detectadas precocemente graças a
tecnologias já disponíveis como aquelas fornecidas por espectrômetros
de massa por tandem, que podem verificar mais de 50 doenças com uma
única amostra de sangue em papel filtro, colhido após os primeiros
aleitamentos do bebê, no caso do teste expandido.
Assim,
graças ao avanço da tecnologia diagnóstica, pode-se detectar
precocemente, em processos de triagem neonatal, várias doenças que
possuem
protocolos e diretrizes de tratamento. Caso a criança não tenha tido a
chance de ser exposta a uma triagem completa, o teste poderá ser ainda
útil mesmo que em caso de diagnóstico tardio, para atenuar eventualmente
algumas das sequelas já existentes.
Alimentos ultra processados salvando vidas
Dentro
dos alimentos para fins especiais, há algumas categorias essenciais
para a manutenção da vida ou como forma de terapias únicas e exclusivas.
Na maioria dos casos, são alimentos ultra processados em indústrias
altamente sofisticadas e com total segurança em seus processos, onde não
pode, sob hipótese alguma, haver risco de contaminação cruzada. Muitas
vezes, são anos de pesquisa e desenvolvimento
até chegar a fórmulas sofisticadas para poucos e raros pacientes.
Dentre
tais categorias, podemos encontrar os alimentos para nutrição enteral,
muito comuns e frequentemente utilizados em pacientes hospitalizados
ou em atendimento domiciliar, além de alimentos para grupos
populacionais específicos, como idosos, gestantes e crianças, por
exemplo. Já as fórmulas dietoterápicas para erros inatos do metabolismo
(2) são aqueles voltados para todos estes pacientes acometidos
de doenças raras, muitas vezes nem tão raras assim.
No
caso das aminoacidopatias, por exemplo, são fórmulas ou alimentos
elaborados a partir da mistura de aminoácidos, podendo-se aportar
carboidratos,
ácidos graxos, vitaminas, minerais, dentre outros, de tal forma a
fornecer todos os ingredientes que aquele paciente precisará para ter um
desenvolvimento normal, à exceção do aminoácido a que tem restrição. No
caso dos produtos para fenilcetonúricos, o item
excluído é exatamente a fenilalanina...
O
mesmo princípio valerá para as dietas voltadas para os casos de
homocistinúria, acidemias glutáricas, doença do xarope de bordo,
tirosinemia,
por exemplo. Em todos estes casos, aquele aminoácido que não seria
processado pela criança será excluído (ou estará em quantidade mínima)
da dieta.
A
tecnologia aplicada a esta área evoluiu tanto que atualmente há
diversos tipos de apresentações para tais alimentos para situações
metabólicas
especiais: além da apresentação em pó (mais comum), já há também em
líquido (pronta para beber), comprimidos e até mesmo em gel.
Embora
o sabor metálico em função da mistura de aminoácidos isolados não fosse
um problema para as crianças que tivessem o diagnóstico precoce,
ele sempre foi uma barreira para a adesão das crianças com diagnóstico
tardio (pois tiveram acesso aos sabores dos alimentos normais). Para
este caso, houve também, mais recentemente, uma inovação disruptiva
através de inúmeros produtos usando o GMP – Glicomacropeptídeo.
Com sabor bem mais agradável, já que o GMP é oriundo do processo de
produção de queijo e é a única proteína natural que não contém a
fenilalanina em sua forma pura, este tipo de produto inovador deve
permitir uma maior taxa de sucesso na adesão e manutenção
do tratamento das crianças com EIM ao longo da vida.
Para
muitas mães que não conseguiam fornecer os nutrientes essenciais para
um desenvolvimento saudável de seus filhos a partir de alimentos
naturais
(pois apenas alguns vegetais, carboidratos e gorduras são isentos ou
com baixo teor de proteína), os alimentos para situações metabólicas
especiais são a grande salvação, pois permitem a chance de uma vida
normal: crescer, estudar, ter amigos, casar... Coisas
tão simples mas que, sem um diagnóstico precoce e preciso e sem um
alimento ultra-processado adequado à sua necessidade, seriam
impossíveis!
(*) Carlos Eduardo Gouvêa, advogado e administrador público, é membro da diretoria da ABIAD, da SBTEIM e diretor da CMW Saúde & Tecnologia.
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