quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Essas manchas não são sujeira, são acantose nigricante; saiba as causas e o tratamento

 


Quem vê as imagens acima talvez acredite que as pessoas fotografadas precisam de mais bucha e sabão, mas a questão é outra, não tem a ver com higiene. Trata-se de acantose nigricante (ou acantose nigricans), um escurecimento da pele que afeta geralmente quem tem resistência à insulina. Demorou para que a estudante de psicologia e criadora de conteúdo digital Camila Cruz descobrisse que eram acantose as lesões que começaram a aparecer quando ela tinha 13 anos. “Eu entendia que aquilo era uma coisa relacionada ao sol. Quem notou que a mancha permanecia foi minha mãe, tanto que muitas vezes ela achava que eu não tomava banho direito.”

Sugestões de receitas caseiras – um perigo – não faltaram. “Molhar o pescoço, passar sabão e deixar e depois vir com a unha para remover. Esse foi um dos métodos mais agressivos, porque chegava a machucar e eu percebia que não funcionava. Também me indicaram passar limão com água oxigenada.” É claro, não resolveram.

A mãe chegou a levá-la a um dermatologista, mas o médico não percebeu que era acantose nigricante e receitou um creme para clarear manchas de sol. A estudante voltou a procurar um profissional da saúde no início do ano passado, quando foi a um clínico geral após perceber que as manchas estavam maiores.

O que é acantose nigricante?

“É um escurecimento e espessamento da pele que pode acometer principalmente regiões de dobras, como pescoço, cotovelos, axilas e virilha e pode acometer também as costas. Em geral, ela é um sintoma de resistência insulínica, que acomete principalmente pessoas com diabetes, pré-diabetes, sobrepeso ou obesidade”, explica o dermatologista Lucas Miranda.

O tratamento

Miranda afirma que é importante tratar a causa da acantose nigricante, identificando se o paciente tem algum dos problemas de saúde acima. Foi o que ocorreu com Camila. Quando ela buscou a ajuda de um clínico geral e falou sobre as manchas, recebeu pedidos de exame. Batata: “Foi identificado que eu estava com resistência à insulina.”

Ela, então, iniciou um tratamento para diminuir o excesso de açúcar no sangue, com dieta, medicamento e exercícios físicos. “Fui perdendo medidas, fiquei 30 dias sem consumir açúcar e percebi que as manchas estavam quase desaparecendo. Continuei monitorando a alimentação e fazendo atividades físicas.”

Camila perdeu 8 kg e, além das medidas, viu as manchas diminuírem. “Na região da barriga e entre os seios, que é onde eu tinha muitas manchas escuras, praticamente não tem mais. As que permanecem mais nítidas, mas menos do que antes, é no pescoço e nas axilas.”

O dermatologista afirma, porém, que quando não se descobre o que provoca a acantose ou quando a causa já foi solucionada mas as manchas permanecem, há outras alternativas. “Alguns tratamentos podem ser tentados, como cremes com alguns ácidos e clareadores, peelings e lasers, mas é muito importante para o sucesso do tratamento a correção da causa”, ressalta.

Autoestima

Camila conta que passou por uma fase de abalo na autoestima devido à acantose. “Eu cheguei um certo tempo a não usar biquíni e camiseta. Chega um tempo que você fica obsessiva para eliminar a mancha. E hoje, que eu sei a real causa do meu problema, consigo lidar melhor com a questão. Foi uma construção diária.”

Lucas Miranda faz uma observação importante em relação às manchas, diante olhares preconceituosos contra quem tem as manchas. “A lesão de pele em si não gera consequência física, mas é uma questão que gera muito desconforto social, pois as pessoas olham com estranheza. Existe um certo estigma com pessoas que possuem acantose nigrigante. Muitas vezes essas lesões são confundidas com sujeira, má higiene. É muito importante a gente alertar que isso não é contagioso e não é má higiene”.


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