sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

PROFESSOR ERNESTO ROSA E AS HISTÓRIAS DE ARAXÁ DO PASSADO:

COLUNA DO PROFESSOR ERNESTO ROSA



 O PAU DE BINGA






 

A ferrovia passava encostada na estrada de Sacramento, perto da Estrada Velha do Barreiro, do outro lado da pista. Ali existia um frondoso Jequitibá sobre o qual existiam várias lendas. Seu tronco era rodeado por um murinho circular.

A palavra jequitibá é do tupi e significa gigante da floresta.

O jequitibá também se chama “Pau de Binga”, porque do seu fruto - um coquinho oco e furado em uma ponta - se fazia binga. O que é binga?



Binga é para acender cigarro. O coquinho era segurando com a mão esquerda junto com uma pedra (que deve conter pirita). Com um disco de aço, batia-se na pedra fazendo pular fagulhas para dentro do coquinho onde havia um pano e se formava uma brasa.

O pano se chamava “candeia”, o disco de aço era o “fuzil”, que, geralmente, era um pedaço arredondado de lima velha. O ato de produzir fagulhas era “iscar”, daí o nome isqueiro, que ficou até para os acendedores modernos. Nos isqueiros mais modernos, do mesmo modo, era uma pequena roda de aço que girava em uma pedra produzindo fagulhas.

Portanto temos uma árvore - o pau de binga - que dá um coquinho, do qual se fazia binga. Binga é um conjunto de um coquinho, um pano queimado, uma pedra e um fuzil.

Do coquinho também se fazia bilboquê, decorações, cachimbo de dois tipos: com tubo ou sem tubo. Sem tubo, bastava furar o fundo do coquinho, colocar fumo para pitar como um charuto. Também dele vem o nome bingolim.



A casca e as folhas do jequitibá contêm tanino para curtir couro. Também o chá possui várias propriedades medicinais, que já estão sintetizadas em remédio.

Naquela época de poucos carros e raros ônibus para o Barreiro, a rapaziada acabava indo a pé, até por economia. Alguns pegavam carona no trem desde a estação até o Pau de Binga e, dali, desciam a pé pela estrada velha. Depois, voltavam do mesmo jeito, se desse certo.

O Pau de Binga adoeceu, foi secando e acabou caindo durante uma tempestade lá pelos anos 80. Foi uma perda irreparável, mas acho que deveriam replantar outro para manter pelo menos o nome do lugar. Esse nome é araxaense!

Há muitos tipos de jequitibá, mas o nosso é o jequitibá rosa, cujo nome científico é Cariniana estrellensis.

Em Vassununga, SP, existe um jequitibá de 3 mil anos, 50 metros de altura e 17 metros de circunferência. Está tombado, conservado e é centro de atração turística!

 


 

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