COLUNA DO PROFESSOR ERNESTO ROSA
O PAU DE BINGA
A ferrovia
passava encostada na estrada de Sacramento, perto da Estrada Velha do Barreiro,
do outro lado da pista. Ali existia um frondoso Jequitibá sobre o qual existiam
várias lendas. Seu tronco era rodeado por um murinho circular.
A palavra
jequitibá é do tupi e significa gigante
da floresta.
O jequitibá
também se chama “Pau de Binga”, porque do seu fruto - um coquinho oco e furado em uma ponta
- se fazia binga. O que é binga?
Binga é
para acender cigarro. O coquinho era segurando com a mão esquerda junto com uma
pedra (que deve conter pirita). Com um disco de aço, batia-se na pedra fazendo
pular fagulhas para dentro do coquinho onde havia um pano e se formava uma
brasa.
O pano se
chamava “candeia”, o disco de aço era o “fuzil”, que, geralmente, era um pedaço
arredondado de lima velha. O ato de produzir fagulhas era “iscar”, daí o nome isqueiro, que ficou até para os acendedores
modernos. Nos isqueiros mais modernos, do mesmo modo, era uma pequena roda de
aço que girava em uma pedra produzindo fagulhas.
Portanto
temos uma árvore - o pau de binga - que dá um coquinho, do qual se fazia
binga. Binga é um conjunto de um coquinho, um pano queimado, uma pedra e um
fuzil.
Do coquinho
também se fazia bilboquê, decorações, cachimbo de dois tipos: com tubo ou sem
tubo. Sem tubo, bastava furar o fundo do coquinho, colocar fumo para pitar como
um charuto. Também dele vem o nome bingolim.
A casca e
as folhas do jequitibá contêm tanino
para curtir couro. Também o chá possui várias propriedades medicinais, que já
estão sintetizadas em remédio.
Naquela
época de poucos carros e raros ônibus para o Barreiro, a rapaziada acabava indo
a pé, até por economia. Alguns pegavam carona no trem desde a estação até o Pau
de Binga e, dali, desciam a pé pela estrada velha. Depois, voltavam do mesmo
jeito, se desse certo.
O Pau de
Binga adoeceu, foi secando e acabou caindo durante uma tempestade lá pelos anos
80. Foi uma perda irreparável, mas acho que deveriam replantar outro para
manter pelo menos o nome do lugar. Esse nome é araxaense!
Há muitos
tipos de jequitibá, mas o nosso é o jequitibá rosa, cujo nome científico é Cariniana estrellensis.
Em
Vassununga, SP, existe um jequitibá de 3 mil anos, 50 metros de altura e 17
metros de circunferência. Está tombado, conservado e é centro de atração
turística!
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