Entre tantos avanços científicos desde a chegada do novo coronavírus ao
Brasil, um estudo divulgado recentemente na Revista Brasileira de Saúde
Materno Infantil reuniu as principais recomendações e desafios
enfrentados para a manutenção da amamentação durante períodos
pandêmicos. Entre elas, está a orientação da Organização Mundial de
Saúde (OMS) para que o aleitamento materno seja mantido, mesmo nos casos
em que a mãe está positivada para a Covid-19.
De acordo com a consultora de amamentação, Virginia Ferreira, a
orientação da OMS considera vários estudos realizados em todo o mundo
que comprovam os benefícios da amamentação e a insignificante
transmissibilidade de vírus respiratórios por meio do processo.
Contudo, para evitar que o bebê seja infectado, é importante que sejam
seguidas todas as medidas higiênicas preestabelecidas – uso de máscaras,
higienização das mãos com água e sabão, higienização das mamas –,
incluindo também a desinfecção rotineira das superfícies em que a mãe
entrou em contato.
“Quando a mãe está doente e se sente limitada para amamentar, o leite
pode ser extraído, armazenado e ofertado ao bebê com a ajuda de alguém
que esteja auxiliando nesse momento. Nesses casos, também é preciso ter
atenção com a higienização dos utensílios que serão usados para a
ordenha e oferta à criança”, explica.
Virginia alerta ainda que, se não gerenciada com precaução, essa
mudança na rotina pode acarretar um problema para a produção de leite,
já que a fabricação depende da frequência com que o peito da mãe é
estimulado.
Outro fator importante a considerar é a ejeção, que está diretamente
ligada à ocitocina. Em situações de preocupação, dúvidas, medo e dor, a
produção desse hormônio pode ser inibida e o leite não “descer”.
“Nesses casos, a mulher produz o leite, mas involuntariamente inibe a
sua ejeção. Isso a coloca em risco de desenvolver ingurgitamento
mamário, mastite, abscessos e até mesmo diminuir a sua produção e,
ainda, agravar o seu quadro da Covid-19”.
Para evitar que esses problemas aconteçam, a especialista explica que é
necessário instituir uma frequência de ordenha que acompanhe a demanda
do bebê. “Também precisamos observar os critérios de armazenamento e
descongelamento do leite para que sejam mantidas todas as suas
propriedades”.
Além disso, é preciso que a mãe mantenha a calma, tente relaxar e se
cuidar e, se necessário, procure ajuda de familiares ou orientação
profissional.
Procura por consultoria
Ainda
segundo Virginia, a pandemia da Covid-19 também refletiu no aumento da
procura por consultorias em amamentação, tanto para mães e gestantes,
quanto para a formação de outras consultoras profissionais. Para a
especialista, esse cenário tem ligação com a diminuição significativa
das redes de apoio.
“A rede de apoio para a mulher, geralmente, é formada por sua mãe,
sogra, tias e avós, entre outros parentes, que já passaram por essa
fase. Diante de uma pandemia que acomete com maior intensidade pessoas
mais velhas, essas mulheres acabam sendo do grupo de risco e precisam
manter o distanciamento social”, diz.
Diante desse panorama e também da crescente conscientização da
importância dessa assistência, as mães acabaram por procurar o apoio de
consultoras profissionais. “Em comparação a 2019, podemos dizer que
tivemos um salto de mais de 50% de procura no ano passado, que deve se
manter até o fim da pandemia”, diz.
Quem é Virginia Ferreira?
Natural de Patrocínio (MG), Virginia Ferreira é graduada em
Fisioterapia pelo Centro Universitário do Cerrado Patrocínio (UNICERP), e
começou a trabalhar com gestantes e aleitamento materno há mais de 20
anos.
Em sua trajetória, foi professora da UNIVAÇO e da UNEC, onde idealizou e
coordenou o Núcleo de Apoio Humanizado a Gestantes e Nutrizes (NAHGEN),
um projeto social que atendeu gratuitamente centenas de gestantes, e
foi premiado pelo Top Educacional Mário Palmério, em Brasília. Foi
docente também da pós-graduação em Fisioterapia na Saúde da Mulher da
Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Em 2007, formou-se como conselheira e multiplicadora do Aconselhamento
em Aleitamento Materno pelo Instituto Fernandes Figueira da Fundação
Oswaldo Cruz, para se dedicar inteiramente ao cuidado e formação de
gestantes, mães, e também de profissionais, como consultoras e
laserterapeutas, mais informadas e empoderadas.
Atualmente, é gestora e administradora do Virginia Ferreira Saúde –
onde atua na assistência em amamentação e formação profissional de
consultores e laserterapeutas –; professora das pós-graduações em
Fisioterapia na Saúde da Mulher e na Saúde Pélvica do IPL – Instituto
Patrícia Lordêlo e em Fisioterapia em Obstetrícia da Aprimore; e
multiplicadora e avaliadora da Iniciativa Unidade Básica de Saúde Amiga
da Amamentação (IUBAAM).
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